O operador de propinas do PMDB Lúcio Funaro disse nesta terça-feira, em depoimento à Justiça, que temia ser retaliado pelo primeiro escalão do governo federal caso o ex-ministro Geddel Viera Lima pensasse que ele estava fechando um acordo de delação premiada.
Funaro disse que, quando estava preso, e antes mesmo de fechar seu acordo, chegou a orientar sua mulher para que atendesse e sempre retornasse as ligações de Geddel, para evitar que ele desconfiasse de uma possível delação.
Durante a audiência — que apura se Geddel pressionou Funaro para não fechar um acordo de delação, tendo assim obstruído a Justiça —, o operador disse que temia retaliações porque, em sua visão, o governo parecia um "carro desgovernado", com amigos atacando amigos.
Ele citou o depoimento de José Yunes, ex-assessor especial do presidente.
Após a revelação de parte da delação da Odebrecht, Yunes foi espontaneamente ao Ministério Público e disse que recebeu Funaro em seu escritório a pedido de Eliseu Padilha. E afirmou que Funaro teria levado um pacote, mas que ele nem chegou a abrir.
Funaro, em sua delação, conta outra história: diz que foi ao escritório de Yunes não para levar, mas para retirar R$ 1 milhão que deveria ser destinado a Geddel.
"Eu fiquei assustado pois vi que dentro do próprio governo não havia, assim, uma linha para resolver assuntos pendentes, pois ver o melhor amigo do presidente atacando um outro que é muito amigo do presidente… Fiquei preocupado.”
Apesar do temor, Funaro não chegou a narrar nenhuma conduta específica de Geddel para tentar impedir que ele fechasse um acordo de delação premiada.
Explicou que o ex-ministro ligou diversas vezes para sua mulher, Raquel Pitta, sempre oferecendo ajuda e perguntando como ele estava, mas nunca fez uma proposta concreta sobre como essa ajuda poderia ser dada.
Algo semelhante disse Raquel. Segundo ela, Geddel era sempre bem educado nos telefonemas e se mostrava preocupado, mas nunca ofereceu dinheiro ou algo concreto em seus telefonemas.