O setor de operações estruturadas da Odebrecht, a estrutura secreta para o pagamento de propinas descoberta pela Lava Jato, realizou repasses que somaram R$ 1,5 milhão a Geddel Vieira Lima na campanha de 2010.
De acordo com planilha entregue pelo ex-diretor de relações institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho, foram três parcelas de R$ 500 mil, pagas no dia 12 de agosto, 16 e 30 de setembro de 2010. Naquele momento, Geddel concorria pelo PMDB ao governo da Bahia.
Na planilha entregue por Cláudio e que faz parte do acordo de delação premiada, Geddel é identificado pelo codinome "Babel".
Na prestação de contas do peemedebista ao governo baiano naquele ano não aparece qualquer doação direta da Construtora Norberto Odebrecht à campanha.
Há o registro apenas de duas doações de R$ 340 mil da Braskem (petroquímica do conglomerado) ao comitê financeiro único do PMDB, que repassou o valor à campanha de Geddel.
Muito influente no mundo da política de Brasília e nos estados, o executivo Cláudio Melo Filho era um dos principais interlocutores da empreiteira com os políticos no acerto dos repasses da empreiteira.
Na quarta (23), o BuzzFeed Brasil revelou outro trecho da delação de Cláudio Melo Filho (ou CMF, conforme era citado nas anotações de Marcelo Odebrecht apreendidas pela PF).
O ex-executivo contou aos investigadores que realizou pagamentos regulares a Geddel quando o peemedebista era ministro da Integração Nacional (2007-2009) em troca da liberação de recursos para obras de irrigação tocadas pela Odebrecht.
Em 2009, a Odebrecht recebeu R$ 35,2 milhões através do projeto de irrigação Tabuleiros Litorâneos de Parnaíba, executado pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) – vinculado ao ministério comandado por Geddel.
Cláudio Melo Filho contou ainda que em março de 2009, no aniversário de 50 anos de Geddel, a empreiteira o presenteou com um relógio suíço Patek Philippe de 25 mil dólares (R$ 85 mil, pelo câmbio de hoje).
Na quinta, Geddel negou as alegações de Cláudio Melo Filho sobre o recebimento do relógio e sobre repasses quando era ministro de Lula.
Geddel temia pedir demissão por medo de Moro.
O escândalo envolvendo a suspeita de tráfico de influência de Geddel sobre o então ministro da Cultura Marcelo Calero para liberar um projeto imobiliário na Bahia minou o poder político do peemedebista nas últimas semanas.
A situação de Geddel começou a ficar insustentável já na segunda, quando ele soube que Calero tinha gravado as conversas que tivera.
No entorno do presidente Michel Temer, segundo o BuzzFeed Brasil apurou com fontes do Palácio do Planalto, a torcida era que Geddel pedisse as contas para não tragar o governo para a crise.
A iniciativa de sair teria de ser do próprio Geddel já que o estilo do presidente não é de demitir seus auxiliares. Todos os seis ministros que caíram sob Temer seguiram a coreografia de apresentar cartas de demissão.
O baiano retardou a saída do ministério (e a consequente perda do foro privilegiado) por causa do risco de ficar exposto ao raio de ação do juiz Sergio Moro, conforme o BuzzFeed Brasil apurou.
PF viu ação de Geddel como lobista da OAS.
A delação de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht, prestes a ser finalizada, não é o único motivo de preocupação do agora ex-ministro na Lava Jato.
Antes, a Polícia Federal já havia identificado a atuação de Geddel como uma espécie de despachante dos interesses da OAS em diversos setores do governo federal, como Caixa Econômica Federal, Secretaria da Aviação Civil e também junto à prefeitura de Salvador.
A informação foi revelada pelo jornal O Globo, em janeiro, com base em um relatório da Polícia Federal sobre as mensagens de WhatsApp capturadas no iPhone de Léo Pinheiro, dono da OAS. Leia aqui.
Uma das ações de Geddel em favor da empreiteira foi a facilitação da entrada da OAS no consórcio da Transolímpica, via expressa do Rio para a Olimpíada deste ano.
Geddel foi citado na delação do próprio Léo Pinheiro, cujo acordo de colaboração foi suspenso. (COLABOROU: GRACILIANO ROCHA)