O presidente Jair Bolsonaro (PSL) está colocando em risco a credibilidade da Polícia Federal. A opinião é de Edvandir Felix de Paiva, que preside a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal).
Paiva falou com o BuzzFeed News nesta sexta-feira (16) após o presidente da República afirmar que interferiu diretamente no processo de nomeação do próximo superintendente da PF no Rio de Janeiro, Estado por onde Bolsonaro se elegeu deputado federal por sete mandatos e onde um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL), é investigado por autoridades locais.
“Eu não seria irresponsável de dizer que o presidente está interferindo no Rio de Janeiro por motivos políticos, mas ele não devia agir dessa forma em hipótese nenhuma”, disse Paiva.
Segundo Paiva, independentemente da qualidade técnica de quem vier a ser o novo superintendente no Rio de Janeiro, haverá sempre uma janela aberta para críticas, seja em investigações que andem muito rápido ou naquelas que parecerem travadas.
“Sabemos que o presidente comanda o país. Mas defendemos, há anos, a autonomia da PF, para evitar a politização e para garantir que a Polícia Federal seja de Estado, e não uma corporação à serviço do governo de ocasião”, disse.
Segundo o delegado, uma vez que o presidente da República e o ministro da Justiça definam quem será o chefe da PF, é preciso que esse chefe tenha autonomia para montar sua equipe e escolher os superintendentes regionais.
“Quando há uma indicação direta do presidente da República, haverá especulações sobre as investigações que ocorrerem no Estado em que ele fez a indicação”, disse.
Ainda sem saber se o próximo chefe da PF no Rio de Janeiro será o delegado Carlos Sousa ou Alexandre Saraiva, o presidente da ADPF fez questão de elogiar a qualidade técnica de ambos.
Pontuou, porém, que a atuação de Bolsonaro acabou por abrir espaço a críticas e a uma “desconfiança desnecessária” por parte da população.
Imbróglio
O processo envolvendo a chefia da PF no Rio de Janeiro teve início ontem, quando o presidente da República disse que iria substituir o superintendente daquele Estado, Ricardo Saadi, por questões de “gestão e produtividade”.
Hoje, ao deixar a residência oficial, Bolsonaro disse que a saída do superintendente era algo previsto há meses, confirmou que o delegado irá trabalhar em Brasília e que isso pode melhorar sua “produtividade”.
Por fim, disse que quem manda na PF é ele, e que o que estava combinado seria a vinda do policial “lá de Manaus”, numa possível referência a Saraiva, e não Sousa, como havia sido anunciado ontem pela Polícia Federal.