Um reality show de narradoras expõe a diferença de tratamento entre homens e mulheres no esporte
Programa do Esporte Interativo vai testar conhecimento das mulheres sobre futebol.
Nesta semana, o canal Esporte Interativo divulgou que fará um reality show para encontrar uma narradora.
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A ideia parece incrível, né? Porém, as mulheres que participarem do programa "A Narradora" vão ter os seus conhecimentos sobre futebol testados.
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Além disso, ficarão confinadas numa casa e serão apadrinhadas pelos narradores do canal.
E, mesmo assim, a vencedora do reality show não será contratada. Ela só vai narrar UM JOGO.
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Em 2009, a emissora fez uma versão masculina do programa que era muito mais simples. Os homens que participaram foram avaliados apenas pela narração de jogos. Nenhum teste de seus conhecimentos sobre futebol foi aplicado.
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Luis Felipe Freitas foi um dos participantes e foi contratado pelo canal. Os competidores não ficaram confinados, nem foram apadrinhados por outros narradores para se desenvolverem profissionalmente.
Também há uma diferença crucial no contexto em que o primeiro programa foi feito: estrutura. Em 2009, o Esporte Interativo era um canal mais modesto e com pouco mais de dois anos de fundação. Hoje, a emissora faz parte do grupo Turner, um gigante da mídia, e transmite a "Champions League" com exclusividade para a TV fechada.
Testar o conhecimento de mulheres sobre futebol, mesmo que elas sejam narradoras, só mostra como a imprensa esportiva as enxerga: elas não conhecem futebol tanto quanto um homem.
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O que o Esporte Interativo está propondo nada mais é do que levar para um programa televisivo a "chamada oral" que muitas mulheres passam quando vestem uma camisa de time.
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Outro ponto que chama atenção é que o reality show tem data prevista para março de 2018, mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. A atração pretende encontrar uma mulher para narrar um jogo ao vivo na Europa.
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E ai a gente se pergunta: se querem contratar uma mulher, por que apenas não contratam uma mulher? Por que precisam tornar esse processo um reality show?
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