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Energia necessária para minerar criptomoedas supera mineração tradicional, dizem pesquisadores

Nos últimos dois anos, pesquisadores estimam que as criptomoedas geraram entre 3 e 15 milhões de toneladas de emissões de carbono.

A mineração digital de criptomoedas exigiu mais energia por dólar do que a mineração física de metais entre janeiro de 2016 e junho de 2018, de acordo com um novo estudo publicado na revista britânica "Nature Sustainability".

Segundo o autor Max Krause, o principal objetivo da pesquisa foi conscientizar a população: "Só porque algo é processado digitalmente não significa que não consuma uma quantidade considerável de energia."

A criptomoeda é uma forma de dinheiro eletrônico gerenciada por uma rede de computadores descentralizada, em vez de um governo ou banco. Nos últimos dois anos, as redes de criptomoedas passaram por um frenesi, com uma grande flutuabilidade de preços que desencadeou um boom de “mineradoras” digitais, assim como golpistas de bitcoin e esquemas em pirâmides multimilionários.

Em dezembro de 2017, o valor do bitcoin, a criptomoeda mais popular, chegou a US$ 19.666 (desde então caiu para cerca de US$ 6.410) — e, de acordo com as últimas pesquisas, a energia computacional necessária para alimentar a moda das criptomoedas consumiu uma quantidade de eletricidade equivalente à consumida pela Irlanda ou por Hong Kong por ano.

Krause e o coautor do estudo, Thabet Tolaymat, descobriram que é preciso mais energia para produzir US$ 1 em bitcoin ou da criptomoeda Monero do que US$ 1 em cobre ou ouro. Além disso, minerar US$ 1 de bitcoin e Monero consumiu mais energia (17 e 14 megajoules, ou MJ, respectivamente), em comparação com Ethereum e Litecoin (ambos 7 MJ em média).

Por outro lado, a mineração convencional de US$ 1 equivalente a vários metais físicos exigiu menos energia — metais de terras raras (9 MJ), metais preciosos (7 MJ), ouro (5 MJ) e cobre (4 MJ). A única exceção é o alumínio, que exigiu 122 MJ.

Krause e Tolaymat também estimaram que, durante o período de 2,5 anos, quatro redes de criptomoedas (bitcoin, Ethereum, Litecoin e Monero) geraram entre 3 e 15 milhões de toneladas de emissões de carbono (1 tonelada métrica equivale a 1,1 tonelada americana).

A pegada de carbono de qualquer criptomoeda depende muito de onde as moedas são geradas. A mineração digital na China, onde ocorre uma porcentagem significativa de mineração, gerou quatro vezes mais CO2 (dióxido de carbono) do que o Canadá, onde 60% da eletricidade é gerada por energia hidrelétrica.

“Pelo menos durante esse período de 2,5 anos, a mineração de um bitcoin em dólares exigiu cerca de três vezes mais energia do que a mineração de US$ 1 milhão em ouro. Fiquei chocado ao ver que os números eram tão altos”, disse Krause ao BuzzFeed News.

Mas por que algumas criptomoedas demandam tanta energia? Acontece que a tecnologia blockchain é praticamente uma "corrida do ouro" digital. Nela, os “mineradores” de criptomoedas competem para terminar as complicadas equações necessárias para verificar as transações da rede. Quem completa o cálculo primeiro é recompensado com moedas. O bitcoin, a criptomoeda mais popular, recompensa o minerador vencedor com 12,5 bitcoins, o que, atualmente, vale cerca de US$ 80.000. Qualquer pessoa pode participar da rede de verificação e "minerar" por dinheiro digital. Para aumentar suas chances, as pessoas então reforçam a potência de seus computadores (para máquinas que demandam mais energia) para este trabalho de "mineração".

Apesar dos altos números observados pela pesquisa, Krause observou que seu estudo levou em consideração apenas o processo de mineração e criação de cada item, não o impacto dos produtos ao longo do tempo. Segundo Krause, as instalações de mineração de criptomoedas (ou seja, milhares de computadores) exigem sistemas de refrigeração extensos, e esses sistemas, que usam eletricidade, não foram levados em conta nos custos de consumo de energia da pesquisa, pois são desconhecidos. "No futuro, assim que obtivermos esses custos de refrigeração, teremos uma visão mais completa das estimativas de consumo de energia para as criptomoedas", disse ele.

E o que acontece depois que o ativo é minerado? “Apesar da mineração de bitcoin consumir muita energia, pelo resto de seu ciclo de vida como ativo digital, [o bitcoin] exigirá muito menos energia do que qualquer material metálico, que deve ser enviado para transporte e remodelado fisicamente”, disse Krause.

Os dois pesquisadores responsáveis pelo estudo trabalham para a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (Krause como pós-doutor e Tolaymet como engenheiro ambiental), mas, segundo Krause, eles conduziram o estudo de forma independente, em suas horas vagas, sem financiamento.

O relatório soma-se a vários outros estudos com descobertas semelhantes. Pesquisadores dizem que a tecnologia baseada na blockchain pode ter um impacto negativo significativo no meio ambiente, enquanto seus críticos afirmam que, considerando a crescente eficiência de hardware e a crescente dependência da rede elétrica global em fontes de energia renováveis, os resultados dos estudos são exagerados.

Um relatório da Universidade do Havaí, em Manoa, descobriu que o bitcoin sozinho poderia produzir emissões suficientes para elevar a temperatura global em 2 ºC em 2033 — embora suas conclusões e pesquisas sobre o uso de criptomoedas em geral tenham sido criticadas por outros pesquisadores.

Eric Masanet, da Universidade Northwestern, discordou do estudo, dizendo que as plataformas de mineração de criptomoedas estão se tornando muito mais eficientes em termos energéticos, juntamente com o setor de energia elétrica global.

Ainda assim, Katie Taladay, coautora do artigo, disse ao BuzzFeed News que os mineradores ainda compram hardwares menos eficientes, pois os processadores mais eficientes são extremamente caros. E em um depoimento ao Senado dos EUA, em agosto de 2018, o professor Arvind Narayanan, da Universidade de Princeton, disse: “Se o preço de uma criptomoeda aumenta, mais energia será usada na mineração dela [...]. A crescente eficiência energética de hardwares de mineração não tem praticamente nenhum impacto no consumo de energia.”

Uma solução é mudar a tecnologia de validação de transação em que o bitcoin é construído, chamada de prova de trabalho (PoW). "A prova de trabalho deve ser substituída por um algoritmo mais limpo", disse Alex de Vries, especialista em blockchain da firma de contabilidade PwC. A prova de participação (PoS), de acordo com de Vries, é outra maneira de chegar a um consenso que não incentiva os mineradores a competirem aumentando seu poder de computação.

“[A prova de participação] pode, na verdade, ser mais ecológica. Se for feito dessa maneira, o impacto no consumo de energia se tornará insignificante”, disse ele. O Ethereum, a segunda moeda digital mais popular, tem planos de mudar para um protocolo consensual de prova de participação. O bitcoin, que é muito mais popular em magnitude do que as outras moedas, depende de uma estrutura de prova de trabalho.

No entanto, até a Ethereum e outras empresas adotarem métodos mais ecológicos, talvez já seja tarde demais. Taladay acredita que a comunidade das criptomoedas precisa pensar de forma crítica na sustentabilidade da estrutura da blockchain, e rápido: "No que diz respeito ao nosso planeta, os seres humanos tendem a esperar até que haja uma grande crise ambiental antes de tomarem medidas para remediar o estrago."


A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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