Gritaram "chinesa!" e tentaram derrubá-la da bicicleta. É mais um ataque racista ligado ao coronavírus.

    "Sim, as pessoas estão realmente atacando fisicamente os asiáticos. Então, por favor, não nos questione quando dizemos que isso acontece."

    Tudo aconteceu quando Jiye Seong-Yu, uma tradutora coreana de 29 anos que mora na Holanda, estava fazendo a pedalada de 10 minutos de casa para a aula de dança de segunda-feira, que ansiosamente espera toda semana. Dois homens de cabelos castanhos que passaram por ela em uma scooter gritaram "chinesa!", e o homem que estava sentado atrás tentou esmurrá-la.

    "Fiquei com muito medo pois era tarde, eu estava sozinha e em uma rua onde não conseguia ver ninguém por perto", ela disse.

    Seong-Yu, que mora em Haia, já estava preocupada pois estava pedalando sozinha após as 22h. Ela desviou quando viu que levaria um murro e quase se acidentou com sua bicicleta. Os homens foram embora e, apavorada, ela andou o resto de seu caminho para casa para contar aos colegas o que tinha acontecido e registrar um boletim de ocorrência online, a que o BuzzFeed News teve acesso.

    Seong-Yu, que tem um padrasto holandês e mora na Holanda há três anos, acabou de vivenciar o que centenas de pessoas de ascendência asiática têm relatado na Europa e nos Estados Unidos: um ataque racista em tempos de coronavírus. O problema é tão sério que a embaixada da Coreia do Sul na Alemanha avisou seus cidadãos sobre possíveis incidentes de violência racial em uma publicação do Facebook, em 3 de fevereiro, depois de relatos de que uma mulher chinesa de 23 anos foi espancada por duas mulheres em Berlim e hospitalizada.

    Na França, os usuários do Twitter de ascendência chinesa usaram a hashtag #JeNeSuisPasUnVirus — "eu não sou um vírus" — para denunciar o racismo. No Reino Unido, uma estudante disse que foi espancada por dois homens que gritavam "eu não quero seu coronavírus em meu país", e uma consultora fiscal de 24 anos da Tailândia foi atacada e assaltada por adolescentes gritando "coronavírus". Na Itália, um dos países mais afetados pelo vírus, ativistas sino-italianos dizem que a desinformação de políticos anti-imigração impulsionou ataques a pessoas de origem asiática e boicotes a estabelecimento que pertencem a chineses. Nos Estados Unidos, americanos de origem asiática relataram terem sido atacados e insultados em público.

    Seong-Yu disse que ficou tão abalada com o que aconteceu que decidiu não sair de jeito nenhum à noite por algumas semanas. E se eu tossisse em público, pensou?

    O assédio também se estendeu para a internet.

    Yvone, uma americana de origem coreana em Amsterdã que se recusou dar seu sobrenome porque não quer sofrer retaliação online, foi chamada de "chinesa vagabunda" e de outros nomes no Facebook. Uma estranha comentou em seu perfil do Facebook: "esta é corona". Vários de seus amigos denunciaram a conta ao Facebook, disse ela. Ela compartilhou capturas de tela com o BuzzFeed News.

    Ela ficou tão abalada com isso, e de ouvir sobre mais incidentes violentos acontecendo a outras pessoas de origem asiática no país, que pediu ao seu marido holandês, que é branco, para acompanhá-la para fazer compras.

    "Eu disse, não quero fazer isso sozinha", contou. "Perguntei se ele podia ir comigo,"

    Depois do incidente com a scooter, Seong-Yu criou uma pesquisa no Google Docs para pessoas de origem asiática que moram na Europa para descrever incidentes de racismo que achavam que estavam ligados à epidemia de coronavírus. Depois de postá-la em um fórum online de coreanos expatriados, ela rapidamente recebeu mais de 100 respostas de pessoas que moram na Holanda, Alemanha, Itália, Espanha e França, entre outros países.

    Uma pessoa que disse sofrer de asma contou que foi seguida por um grupo de adolescentes gritando "asiática infectada" e "corona asiática". Outra pessoa disse que um homem a empurrou de uma bicicleta enquanto estava pedalando com alguns amigos. Eles perguntaram o motivo ao homem e ele respondeu: "vocês são chineses, todos os chineses têm o coronavírus".

    Peter Aldhous / BuzzFeed News

    Casos de COVID-19 e mortes em todo o mundo.

    Outra mulher que vive na Holanda disse que acordou de manhã e encontrou uma suástica riscada no corredor do lado de fora de sua casa. Apenas sua família coreana e outra família, que é branca e holandesa, moram no prédio.

    Seong-Yu disse que espera que a polícia possa ajudá-la a encontrar a gravação da câmera de segurança que poderia ajudá-la a identificar os agressores. Mas a polícia disse a ela que eles podem fazer pouco, a menos que mais pessoas denunciem casos parecidos e surjam padrões, ela contou.

    Ela está pensando em iniciar uma organização com amigos coreanos no país para chamar atenção para o racismo contra pessoas de origem asiática lá. Ela tinha sofrido racismo antes na Holanda, disse, mas a severidade deste ataque mais recente a chocou e a amedrontou.

    "Realmente me surpreendeu", disse. "Eu vim para a Holanda com meu padrasto, que é holandês e branco, e minha mãe há muito tempo. Nunca passamos por essas experiências quando viemos para cá como família."

    "Quando estou com meus amigos holandeses, isso não acontece comigo", ela acrescentou. "Apenas quando estou sozinha ou com outras amigas de origem asiática."

    Para chamar atenção, Seong-Yu escreveu sobre o incidente em sua página pessoal no Facebook. "Então, sim, esse tipo de merda está acontecendo. Sim, as pessoas estão realmente atacando fisicamente os asiáticos. Então, por favor, não nos questione quando dizemos que isso acontece", escreveu. "Estamos realmente cansados dessa merda."

    Este post foi traduzido do inglês.

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