11 anônimos contam como posar nu mudou sua relação com seus corpos

Se despir em frente a uma câmera pode mudar tudo.

1. Pedro Cerqueira, 27 anos.

Michell Lott

"Por ser de uma cidade muito pequena, sempre tive um pudor muito grande com o corpo e com a exposição em geral. Mas depois de vir morar em São Paulo, há 10 anos, e me assumir gay, comecei a perceber que independentemente de qualquer coisa eu tinha o meu corpo do meu lado.

Depois de fazer o ensaio voltei para casa pensando e me dei conta que aquilo tinha sido o auge da demonstração da minha pessoa, para quem quer que seja. Me senti fiel a mim, digno e merecedor de tudo que tenho, passei a dar mais a cara a tapa, assumir minhas posturas e estar aberto para comentários. Não digo que posar nu tenha mudado toda a minha vida, mas com certeza me fez assumir de vez cada canto do meu corpo, seja externo ou interno. Bato no peito e digo: 'Sou eu! É meu!'"

2. Juliana Jaczur, 29 anos.

Guimel Salgado

"A questão do nu pra mim sempre esteve muito conectada com a aceitação do meu próprio corpo. Eu sempre fui "acima do peso" e me acostumei a sentir que estava feia ou inadequada.

Estar completamente nua na frente de muitas outras pessoas em uma situação profissional foi como um carimbo: você está indo pelo caminho certo. A sessão de fotos foi como uma celebração daquele mesmo corpo que eu não gostava. E principalmente me ajudou a perceber que sou eu que tenho que achar bonito e valorizar antes de qualquer um. Pode parecer óbvio, a gente sempre sabe disso racionalmente, mas nem sempre a gente consegue agir assim".

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3. Rodrigo Corrêa, 31 anos.

Rodrigo Sardinha

"O ensaio para mim foi mais uma libertação! Sempre fui tímido e nunca tinha aceitado meu corpo completamente. No primeiro momento foi um desafio encarar ser "modelo", ter a preocupação de não estar fazendo alguma cara estranha, mas depois fiquei à vontade.

Saí de lá me sentindo um vencedor: venci minha timidez, me senti sexy. Percebi que meu corpo, mesmo sendo magrelo, poderia agradar e ser sensual. A partir daquela experiência eu acredito que meu corpo e minha sensualidade estão mais ligados".

4. Carol Rosa, 31 anos.

Thabata Guerra

"Posar nua pra mim foi um desafio. Isso porque não existe 'imagem real'. Somos um conjunto louco de percepções pessoais diferentes e carregamos esse fardo nos ombros. Às vezes, ele é pesado. A incerteza sempre pesa: não saber como irão te ver. E posar nua te ajuda a se desvincular disso. Sua ode ao seu corpo. Sem mascaramentos, sem auto-preconceito.

Quando fui fotografada pela Thabata Guerra, estava com 20 quilos a mais do que estou hoje. Nesse final de semana, serei clicada novamente pelo fotógrafo Marcelo Sabino. Espero olhar para essas fotos como eu olhei para aquelas e me desvencilhar de qualquer autocrítica. De uma coisa, pode ter certeza: não farei posts de “antes e depois”. Quero que essas duas fases continuem tendo a sua beleza sem maldades. Quero que seja um registro e uma homenagem ao meu amor próprio. Afinal, ele foi muito árduo de alcançar, sendo eu gorda ou magra".

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5. Bruno Palma, 30 anos.

Luiz Sontachi

"Eu tive uma fase de ficar pelado em festas e tal. Também viajava com uns amigos e a gente ficava pelado boa parte do tempo. Acho massa tratar o corpo com naturalidade. Mas fazer foto foi um processo bem diferente. Era eu lá, sóbrio, com um fotógrafo que eu conheci no dia e com uma pessoa ali dizendo pra fazer isso e aquilo.

Mas eu gostei bastante de fazer porque o projeto [N. do R.: Bruno posou nu para um projeto que se dispunha a retratar a sexualidade em suas diversas formas] tinha uma ideia que eu curto muito, que é a de naturalizar os corpos, todos eles. Foi uma experiência incrível. Também foi bem gostoso trocar ideias com pessoas que participaram do projeto e de outros com a mesma linha. Aos poucos vamos nos libertando de nossas amarras com relação ao outro e com relação a nós mesmos. Ainda bem".

6. Carolina Patrocinio, 30 anos.

"Nunca tive grandes problemas com meu corpo, até que engordei e o mundo me disse que aquilo não estava certo. Foram 20 quilos na última gravidez e meu corpo nunca mais foi o que eu conhecia. Posar nua me fez olhar para ele com mais generosidade. Em vez de pensar que eu tinha que ser como as minas das revistas, me olhei como olharia uma delas. Vi meus pontos positivos pelo olhar de outra pessoa e isso me ajudou a entender que meu corpo é um meio, não o fim. Ele me leva para os lugares e me permite interagir com o externo. É para isso que ele serve.

O mais bonito das minhas fotos não é o meu corpo, é o meu olhar, a alegria de estar ali, de ser eu mesma, de não ter vergonha. E isso eu carrego comigo. Descobrir nossos corpos é um ato de compaixão com nós mesmos".

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7. Mariana Benedito, 26 anos.

Marcelo Kzm

"Acho que depois desse ensaio parei de achar ruim ser muito magra. Entendi que sempre fui magra e parei de me martirizar por isso."

8. Dudx Babaloo, 26 anos.

André M Martins

"Posar nu pra mim não foi um problema. O mais difícil foi o meu próprio julgamento sobre o meu corpo, que tem formas redondas e muitas vezes femininas.

Nem o julgamento alheio me amedrontava, mas sim o meu. E quando eu posei pela segunda vez, eu percebi o quanto somos duros conosco. Quem nos sabota somos nós mesmos. Depois que essa ficha caiu, meu olhar mudou sobre essas e outras fotos".

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9. Bruno Piatto, 29 anos.

Julia Rodrigues

"Era óbvio para mim e possivelmente para todos que me conhecem que eu nunca fiz parte de um padrão de beleza, e não me considerar atraente não necessariamente me machucava. Nunca me machucou, acho. Mas acredito que, depois que aceitei a nudez como algo comum, vi que ela não necessariamente era sempre sexualizada. E ao notar que todo corpo nu é, de fato, belo, comecei realmente a construir um 'auto-amor' que eu não sabia que existia.

Afeiçoei-me ao naturismo mais ou menos na mesma época em que o ensaio ocorreu. Portanto, é inegável que o resultado de ambos foi, para mim, uma quebra de paradigmas gradual, porém muito positiva".

10. Júlia Saraiva, 20 anos.

Gabriella Moura

"A nudez sempre foi e ainda é algo muito natural para mim. A ideia do corpo como simples instrumento de sexualização me parecia absurda e ao posar nua pude ter certeza de minhas percepções do corpo nu como forma de expressão, onde você expõe sem amarras o que realmente carrega sua personalidade. Onde cada imperfeição, cicatriz e naturalidade traz uma história sobre você. Hoje consigo amar cada pedaço de quem sou, sabendo que estou perfeitamente dentro do contexto que me faz feliz".

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11. Caio Baptista Antonio, 25 anos.

"Posar nu fez com que eu conhecesse uma versão minha que eu achava que conhecia. Sendo negro e gordo, a beleza é algo que lhe é negado logo de cara. Beleza plus size masculina é quase um mito e a beleza negra não é apreciada como se deve na nossa sociedade, a menos seja seja fetiche. De cara, meus olhos mais julgaram do que aceitaram, mas depois de abrir ao público eu consegui ver beleza em mim. Se sentir bonito nunca foi um privilégio do qual eu pude gozar, mas as pessoas insistiam em me dizer que eu era – algo que o mundo sempre me disse que não era – bonito.

Hoje, em paz com tudo isso, vejo que minha autoestima melhorou horrores, vejo o quanto um elogio faz a diferença na vida das pessoas e, acima de tudo, vejo que me sinto e sou bonito, independentemente do que me digam, e que nada muda isso."

A Semana De Bem Com o Seu Corpo é voltada para explorar e celebrar nossas complicadas relações com nossos corpos. Você pode ler os posts da Semana De Bem Com o Seu Corpo aqui.

Chris Ritter / BuzzFeed

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