As sufragistas eram xingadas antigamente assim como muitas mulheres são hoje nas redes sociais

    A curadora de uma nova exposição no Museu de Londres disse que as ameaças de morte e as mensagens de ódio que as sufragistas recebiam são "definitivamente" comparáveis aos insultos que as mulheres que trabalham na política recebem no Facebook e no Twitter atualmente.

    Este cartão-postal de 1909, nunca exibido antes, mostra os insultos que as sufragistas britânicas recebiam por lutar pelo direito das mulheres ao voto.

    O cartão-postal, dirigido à "Senhorita Pankhurst e seu bando", foi enviado ao escritório central da União Social e Política das Mulheres — o título oficial das sufragistas — em Lincoln's Inn, Londres (Reino Unido).

    "Seu grupo de tolas repugnantes", escreve o remetente. "Se vocês não têm lares, nem maridos, nem filhos e nem relações, por que não saem do caminho se afogando?"

    O cartão-postal hoje pertence ao Museu de Londres, onde uma exposição marca o aniversário de 100 anos da lei que deu às mulheres maiores de 30 anos o direito ao voto no Reino Unido [no Brasil, as mulheres conquistaram esse direito em 1932].

    Beverley Cook, curadora de história social e trabalhista do museu, disse ao BuzzFeed News que, de várias formas, enviar cartões-postais era o equivalente da era eduardiana a compartilhar algo nas redes sociais.

    Cook disse que as ameaças de morte e as mensagens de ódio que as sufragistas recebiam "definitivamente" são comparáveis aos insultos que as mulheres que se envolvem com política recebem hoje no Facebook e no Twitter.

    "Acho que isso prova que as pessoas tentam controlar e intimidar as mulheres para que elas não participem da democracia desde lá atrás."

    Centenas de cartões contra o sufrágio feminino, vários dos quais ilustravam as sufragistas como desleixadas e um perigo à vida familiar, foram vendidos em lojas entre 1903 e 1917, quando o movimento ainda estava ativo. Alguns deles estarão à mostra na exposição, que ficará aberta à visitação entre 2 de fevereiro e 27 de março.

    Segundo Cook: "Até mesmo as pessoas a favor de dar às mulheres o direito ao voto compravam esses cartões, ou por não concordarem com alguma das táticas mais extremas delas ou por acharem que eles eram engraçados, sem entenderem ou levarem em conta que eles poderiam ser muito ofensivos. Nesse sentido, existe uma similaridade com as redes sociais de hoje: é muito fácil debochar, satirizar ou insultar alguém de longe, mas, se você se colocasse no lugar daquela pessoa, provavelmente não faria isso."

    Outro cartão-postal escrito à mão e mostrado ao BuzzFeed News foi um enviado à Minnie Turner, sufragista de Brighton.

    Turner havia sido presa por participar de um protesto no qual as sufragistas quebraram janelas em março de 1912. Quando ela voltou para casa, encontrou um cartão-postal dirigido, ironicamente, ao "Sr. Turner".

    "Crieo [sic] que as suas janelas provavelmente estão prestes a ser quebradas como ato de retaliação, portanto lhe aviso para tomar precauções", diz.

    As sufragistas também sofriam agressões físicas.

    Apesar de Cook concordar que o tipo de mensagem de ódio que as sufragistas recebiam é semelhante ao que existe hoje nas redes sociais, ela ressalta que elas sofreram "muito mais agressões" por estarem fisicamente vulneráveis durante seus protestos nas ruas.

    As sufragistas costumavam ficar ao lado do meio-fio durante seus protestos, como na foto acima, tirada em 1907, para que não pudessem ser presas por perturbação da ordem pública e obstrução.

    "Acho que a vulnerabilidade física delas ao protestar nas ruas era bem diferente", disse Cook. "Sei que é horrível receber tuítes nas redes sociais enquanto se está em casa, mas ser corajosa o bastante para ficar em uma esquina e vender um jornal no início do século 20 é, para mim, bem pior. Não havia como se esconder – ficava-se completamente exposta e à mercê de quem quer que estivesse passando pelo local. Aquelas mulheres estavam sozinhas, não eram protegidas de forma alguma e obviamente a polícia não iria protegê-las. Elas estavam vivendo em uma sociedade bem diferente da atual. Para mim, é uma das partes mais corajosas do movimento."

    Ainda assim, Creasy salientou que o assédio físico ainda acontece atualmente. "Isso também acontece off-line. Nas campanhas que organizo, ouço gritos contra mim e hoje meu escritório tem um segurança", disse.

    "Só porque algo acontece on-line não significa que seja menos sério; a questão são as pessoas por trás disso tudo", acrescentou. "Se em um bar alguém me assediasse e gritasse comigo e eu dissesse: 'Pode parar com isso?', mas as outras pessoas reagissem como: 'Deixa disso, não foi nada demais', você estranharia, não é?"

    Este post foi traduzido do inglês.

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