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20 histórias do livro "Tormenta" que expõem a rusticidade do presidente Bolsonaro

Antes da entrevista ao Roda Viva em 2018, assessores sugeriram a Bolsonaro responder que seu livro de cabeceira era uma biografia de Churchill. "Quem?"

Em recente transmissão ao vivo no Facebook, o presidente Jair Bolsonaro criticou Thaís Oyama, a autora de "Tormenta - O Governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos" (Companhia das Letras, R$ 54,90), que disseca os bastidores dos primeiros meses do governo e também de alguns episódios da campanha.

“A nossa imprensa tem medo da verdade. Deturpam o tempo todo. Mentem descaradamente. Trabalham contra a democracia, como o livro dessa japonesa, que eu não sei o que faz no Brasil”, afirmou sobre a jornalista.

Thaís Oyama faz no Brasil o mesmo que o presidente: mora no país onde nasceu. A autora, ex-redatora-chefe da revista Veja, é neta de japoneses.

O ataque do presidente veio depois que a imprensa publicou um trecho em que a jornalista afirma que Bolsonaro esteve prestes a demitir Sergio Moro no ano passado por discordar de uma decisão de Dias Toffoli (STF) que trancava a investigação sobre o filho 01, o senador Flávio Bolsonaro. Pela narrativa, foi o general Augusto Heleno que dissuadiu o presidente de demitir o ministro da Justiça.

O BuzzFeed News leu o livro e separou 20 histórias que ilustram como foi esse período e a personalidade do presidente, da sua família e de integrantes do governo.

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1) Na hora de escolher seus ministros, Bolsonaro recebeu recomendações variadas sobre os nomes cogitados. Com relação a atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, um dos elogios feitos sobre o "currículo" de Damares Alves é que ela, "além de boa, tem uma filha índia".

2) Um dos convidados para posse de Bolsonaro foi Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. A chefe da comitiva do premiê israelense informou ao Brasil que queria desembarcar no país com um grande aparato de segurança. Ao saber da informação, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ficou preocupado os equipamentos israelenses pudessem servir para interceptar diálogos de autoridades locais. Ao ser questionado por um funcionário do Itamaraty sobre qual resposta o Brasil daria, Heleno perguntou ao diplomata: "Tu fala hebraico?". Ao receber uma resposta negativa, respondeu: “Então vê no Google como se diz ‘vai tomar no cu’ e diz isso pra ela”.

3) Em um café da manhã com empresários, em agosto de 2018, Bolsonaro fez um discurso que durou pouco mais de 3o minutos. No intervalo, Augusto Heleno, que estava no local, se distanciou dos presentes e, acreditando estar sozinho, fez um resumo do desempenho do candidato na conversa: "O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”. Ao saber da fala de Heleno, Bolsonaro ficou mais embaraçado do que bravo.

4) Depois da facada que sofreu em Minas Gerais, em setembro de 2018, Bolsonaro ficou um tempo internado em São Paulo antes de receber autorização para voltar ao Rio de Janeiro. Na hora de deixar o hospital rumo ao aeroporto de Congonhas, Gustavo Bebianno, então homem-forte da campanha presidencial, foi informado que não tinha espaço para ele no carro. O veto veio de Carlos, filho do presidente e que nunca escondeu não gostar de Bebianno. Enquanto argumentava com a comitiva do candidato a presidente, o advogado ouviu um grito vindo do carro, feito pelo 02: "Vai de Uber!". Com Bolsonaro empossado, Bebianno foi nomeado ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Não durou nem dois meses no cargo porque foi bombardeado por...Carlos Bolsonaro.

5) Antes de fechar com o PSL para eleições de 2018, o candidato estava com tudo acertado para ingressar no Partido Ecológico Nacional (PEN) e disputar a eleição. Horas antes de selar o acordo, num grande evento preparado pelo partido para anunciar o novo filiado, o capitão recebeu uma ligação do então deputado Magno Malta que falava sobre o PEN ser contra a prisão em segunda instância – debate que estava em alta na época e que poderia ajudar seu rival, Lula. Ao saber da notícia, Bolsonaro foi a festa e anunciou: "Tô indo para o altar, mas a noiva está grávida e o filho não é meu”. Todos ficaram incrédulos, inclusive seu filho, Flávio Bolsonaro, que classificou o episódio como "vexame".

6) Na briga de qual partido ficaria com Jair, o presidente do PSL, Luciano Bivar, chegou a desistir do páreo. Para convencê-lo do contrário, Julian Lemos, empresário paraibano e bolsonarista convicto, disse que estava pertinho de Bivar e queria conversar pessoalmente com o manda-chuva da sigla. Na verdade, Lemos estava a 121 quilômetros de distância e, para fazer o percurso em 40 minutos, acabou acumulando nada menos que R$5.800 de multas. No final, como sabemos, as infrações foram um mal menor; Bolsonaro filiou-se ao PSL e ganhou a eleição. Agora, Bolsonaro já saiu do PSL e está tentando criar o próprio partido, a Aliança pelo Brasil. Julian Lemos elegeu-se deputado federal pelo PSL da Paraíba.

7) Hélio Lopes, o Hélio Negão, é amigo de longa data de Jair Bolsonaro. Depois de eleito, o presidente passou a levá-lo em viagens pelo mundo. Porém, os dois compartilham de um paladar restrito, o que acaba gerando situações desconfortáveis. Certa vez, em jantar com autoridades em Santiago, no Chile, foi servido ceviche, prato tradicional do país. Ao provar a iguaria, o deputado chorou de surpresa. “Só percebi que era peixe cru quando já tinha posto na boca".

8) Na campanha de 2016 para prefeitura do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (PSC) passou mal em um debate na TV Bandeirantes e foi socorrido pela também candidata Jandira Feghali (PCdoB), que é médica. Flávio divulgou uma nota de agradecimento à comunista. Bolsonaro ficou furioso com o filho 01 e ordenou que Carlos, o filho 02 e que comandava as redes sociais do irmão candidato, deixasse as redes do candidato a prefeitura sem postagens.

9) No começo do seu governo, Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão, tiveram pequenos problemas de relacionamento. Em viagem aos Estados Unidos no mês de abril, Mourão encontrou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os dois posaram para fotos sorridentes. Ao voltar para o Brasil, o vice encontrou um presidente enfurecido: "E ainda tinha que ficar rindo pro homem, pô?".

10) Carlos Bolsonaro, 37 anos, é o xodó do pai. Porém, os sumiços do filho após discussões com o pai fazem que o presidente fique com medo que Carlos, que faz uso de medicamentos para estabilização de humor, "faça alguma besteira". Certa vez, Carlos, que tem acesso às redes sociais do presidente, republicou na conta do YouTube de Jair Bolsonaro, um vídeo em que o guru Olavo de Carvalho ataca o vice-presidente, Hamilton Mourão. Após discussão, Carlos apagou o vídeo da conta de YouTube do pai, mas republicou-o em seu próprio Twitter. Depois da bronca, Carlos sumiu, sem atender ligações ou responder mensagens. Relatos dizem que o presidente mal conseguia despachar por conta da preocupação.

11) O vice-presidente Hamilton Mourão e o 02, Carlos Bolsonaro, estavam em pé de guerra. No meio da confusão, o presidente da República que estava há 20 dias sem falar com o filho. Para conseguir uma trégua, no mês de maio do ano passado, Bolsonaro fez dois anúncios: o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 passaria a acontecer no Rio de Janeiro e o novo titular da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) seria Alexandre Ramagem. Carlos é fã de F1 e tem em Ramagem um homem de confiança.

12) A escolha para vice-presidência na chapa de Bolsonaro foi coisa de novela. Quase fizeram parte da chapa: Augusto Heleno, Magno Malta, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, além da hoje deputada estadual em São Paulo, Janaína Paschoal (PSL). Janaina, co-autora do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, levantou suspeitas da militância bolsonarista, ao fazer duras críticas durante um evento do PSL, chegando a questionar se os correligionários não estariam "fazendo o PT ao contrário". Durante as negociações, para testar sua lealdade ao capitão, faziam uma série de perguntas para Janaina - algumas sem muita relação com a política. “Fala a verdade, você é globalista? Um chinês mandou uma mensagem para o Bolsonaro dizendo que você era globalista”.

13) O general Santos Cruz foi um dos ministros demitidos por Bolsonaro em seu primeiro ano de governo. Após ser constantemente xingado pelo guru Olavo de Carvalho no Twitter sobre uma possível proposta de regulação da internet, Santos Cruz foi conversar com o presidente para negar que tenha feito tal sugestão e reclamar dos ataques constantes - que contaram com o apoio do presidente. Os dois discutiram e "chegaram a bater testa", isto é, aproximaram-se tanto na briga que as testas dos dois quase se encostaram.

14) Na reunião do G20, uma foto de Jair Bolsonaro, Hélio Negão e Donald Trump viralizou. Enquanto os brasileiros caíam na gargalhada, Trump dava um sorriso tímido. O motivo real, segundo o livro: Bolsonaro apresentou Hélio e explicou que o termo negão era relacionado a cor da pele, e emendou: “Mas, apesar de ser negão, ele tem bilau de japonês”.

15) Bolsonaro é um homem que costuma ter atenção apenas ao que lhe interessa. Em setembro de 2018, Paulo Guedes se encontrou com Bolsonaro para repassarem algumas questões sobre economia. No dia seguinte a reunião, o candidato a presidência seria sabatinado na GloboNews. Porém, na disputa pelo foco do capitão, o futuro ministro da economia acabou perdendo para o futebol. Durante o encontro, Bolsonaro não conseguiu tirar os olhos da TV, onde era transmitida a partida entre Palmeiras e Bahia.

16) Bolsonaro costuma se orgulhar por ter espaço no noticiário, independente do porquê. Três semanas depois da votação do impeachment de Dilma Rousseff, o então deputado federal estava no Rio de Janeiro com amigos e segurando uma cópia de uma reportagem do The New York Times, que fez um perfil político seu. "Algum de vocês já foi capa do New York Times?", disse.

17) Na Câmara para participar de uma audiência sobre a Reforma da Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu a compostura com Zeca Dirceu (PT-RS), que provocou-o dizendo que o ministro era "tigrão" com aposentados e idosos, mas era "tchutchuca" ao lidar com interesses dos bancos. "Thutchuca é a mãe", reagiu Guedes. Logo depois do episódio, Guedes se arrependeu: “Eu não podia ter feito isso”.

18) Após a divulgação de um relatório, produzido pelo Inpe, apontando um aumento do desmatamento na Amazonia, Bolsonaro ficou furioso e chegou a dizer que o diretor do órgão, Ricardo Galvão, estava a serviço de ONGs. Galvão respondeu que não se demitiria, o que não foi preciso. Menos de um mês depois da divulgação do relatório, o diretor foi demitido, no que Bolsonaro comemorou: "Mais um vermelhinho fora", fazendo gesto imitando uma arma. E completou dizendo: "Na nuca!".

19) Segundo o livro, Bolsonaro, 64 anos, toma Cialis, medicamento para disfunção erétil.

20) Para ajudar na preparação do então candidato Jair Bolsonaro para uma entrevista ao programa Roda Viva, Gustavo Bebianno pediu conselhos a um "experiente jornalista" (cujo nome é omitido pela obra). Entre as dicas, o profissional disse que Bolsonaro deveria ter respostas prontas para perguntas clássicas, como qual seu livro de cabeceira. Bebianno apresentou um problema – Bolsonaro não tem o hábito da leitura - algo que foi rapidamente solucionado pelo jornalista, que sugeriu como resposta a biografia de Churchill.

Com a recomendação em mãos, Bebianno se reuniu com Bolsonaro e seu staff para definir a estratégia para o programa e disse:

– Também vão perguntar ao senhor qual é o seu livro de cabeceira. Diz que é uma biografia do Churchill.

Bolsonaro ficou confuso:

– Quem?

– Winston Churchill, o primeiro-ministro britânico – tentou ajudar Bebianno.

– Esse nome eu não vou lembrar – lamentou Bolsonaro.

– Então diz que é a Bíblia.

Mesmo com tudo acertado, Bolsonaro decidiu improvisar e, no programa, disse que seu livro de cabeceira era "Verdade Sufocada", do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que foi declarado torturador pela Justiça.

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