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O Cristiano explicou por que é tão difícil o isolamento contra o coronavírus para quem mora na favela

"Aqui, se eu espirro pega no meu vizinho", diz ele, que só aceitou ficar em casa depois do anúncio de auxílio financeiro da prefeitura.

Cristiano Gonçalves Cardoso, 34, é morador da favela de Vila Prudente, na zona leste de São Paulo, e trabalha em uma cooperativa de material reciclável, a Recifavela, na mesma comunidade. E contou que a pandemia de coronavírus mudou a forma de vida que ele e outros moradores e trabalhadores levavam.

Por telefone, ele falou ao BuzzFeed News sobre as dificuldades de implementação de medidas de isolamento em regiões de periferia.

"Aqui, se eu espirro pega no meu vizinho. Eu moro numa casa pequena, com quatro filhos e três idosos – meu pai, minha mãe e meu padrasto. Minha mãe teve que sair porque ela está no grupo de risco e tem outras doenças, e agora está morando na casa do meu irmão, para ficar menos exposta", disse Cristiano.

"Como você vai falar pra alguém que mora numa casa da favela, pequena e com pouquíssima ventilação, que não pode sair de casa? É complicado, mas temos que superar esse momento, que é passageiro."

Moradores da favela de Vila Prudente se organizaram para criar uma espécie de "gabinete de crise" na comunidade. Empresas e moradores vêm realizando doações de material de higiene e cestas básicas para famílias carentes. "Tentamos levar informação e tranquilizar o pessoal. Todo mundo sabe que quando chegar nas favelas é pior. Onde falta muita coisa, a solidariedade é fundamental", disse Cristiano.

Mesmo com as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incentivando a reabertura de comércios e o afrouxamento das medidas de quarentena, Cristiano afirmou que, pelo menos na favela de Vila Prudente, os moradores vêm tentando seguir as medidas de isolamento social.

"Depois que começou a ter alguns casos suspeitos na favela, o pessoal se tocou que é uma coisa séria. Boa parte das ruas vazias, de noite não tem ninguém fora de casa. Claro que tem maluco pra tudo, tem gente que compra essa ideia de que não é tudo isso, que pode sair por aí. Mas a maioria está conscientizada."

Mas o próprio Cristiano só parou de trabalhar na terça-feira (31). Ele disse que a pandemia veio no pior momento possível para quem trabalha com reciclagem. O mês de abril – que segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deve ser o mês de pico no número de casos – é o período de alta nos preços dos reciclados.

"Aqui na Recifavela, a gente já tinha material de higiene pro pessoal antes dessa crise e reforçamos os avisos para prevenção. Éramos 40 pessoas; com o coronavírus, passamos para 10, porque mandamos as pessoas que são do grupo de risco ficarem em casa. Infelizmente, ficou difícil de vender nosso material, muitas fábricas também fecharam as portas. É difícil, o final de ano é ruim pra gente, o preço dos recicláveis cai bastante e volta a subir agora em abril. Eu tinha que sair de casa pra ganhar meu sustento. Saía com medo? Sim. Mas faz parte, tenho que colocar comida em casa, pagar as contas".

Cristiano só decidiu ficar em casa, em isolamento, depois que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou um auxílio que vai de R$ 600 a R$ 1.200 para catadores de recicláveis e cooperados. Com isso, mais de 2.000 pessoas, incluindo Cristiano, receberão o benefício por três meses. Segundo o cooperado, esse é um valor razoável em um mês normal de trabalho, que pode chegar até R$ 3.000 em meses de boa produção.

"Não tem como a favela ficar de quarentena sem a ajuda do Estado. É muito difícil ficar em casa podendo passar fome. Esse auxílio tira um peso das nossas costas e nos dá a real opção de ficar de quarentena, em casa. Posso até dizer que é um privilégio, que não é todo mundo que tem", disse.

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