Os moradores de Sinop (500 km de Cuiabá), no Mato Grosso, se depararam nesta quinta-feira (26) com um caminhão de som pedindo para população voltar a trabalhar, "atendendo um pedido do presidente Bolsonaro".
"O nosso presidente pediu, pessoal! Vamos voltar a trabalhar. O agronegócio precisa, o comércio precisa. Nós estamos aqui dando continuidade as ações do nosso presidente. O Brasil não pode parar", diz o locutor em cima do carro de som, em vídeo que circula nas redes sociais.
Sinop é uma cidade com cerca de 140 mil habitantes, que tem como principal motor econômico o agronegócio. No segundo turno das eleições de 2018, Jair Bolsonaro recebeu mais de 77% dos votos válidos no município. No 1º turno, ele havia obtido 70%.
No dia 20 de março, a prefeita de Sinop, Rosana Martinelli (PR), publicou um decreto com medidas restritivas, como fechamento do comércio e órgãos públicos. A medida passou a valer a partir na terça, 24 de março, mas durou pouco.
Na quarta-feira (25), dia seguinte ao discurso do presidente em cadeia nacional, um novo decreto permitiu o funcionamento de parte do comércio, como hotéis, lojas que forneçam materiais para construção civil e agropecuária.
O decreto também passou a permitir o delivery de lanchonetes e restaurantes, além do funcionamento em 50% da capacidade de borracharias e mecânicas.
Sinop não dispõe de testes para coronavírus. Segundo a Secretaria de Saúde do município, exames colhidos na cidade são enviados para a capital Cuiabá. Na quarta-feira (25), a prefeitura comprou mil testes que devem chegar na cidade só daqui 30 dias.
Até o momento, o estado do Mato Grosso tem 9 casos de coronavírus confirmados. Oficialmente, a cidade de Sinop não tem nenhum caso confirmado. A contagem de casos suspeitos também sofreu uma reviravolta: boletim estadual afirma que, de 22 suspeitos na cidade no início da semana, passaram a ser apenas 2.
Nesta quinta (26), o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), assinou decreto relaxando medidas de prevenção ao coronavírus e pediu que os prefeitos sigam o mesmo padrão. O governador afirmou que as novas medidas não têm relação com o posicionamento do presidente da República.
"Nós estamos trabalhando para salvar vidas, mas nós não podemos arruinar vidas com essas paralisações que vão trazer grandes transtornos para muitas pessoas que dependem do seu salário", disse o Mendes durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (26).
O BuzzFeed News procurou a prefeita Rosana Martinelli (PR) nesta quinta, mas não conseguiu falar com ela. A prefeitura informou que não é responsável pelos carros de som que percorrem a cidade.