Anulação da delação de dono da OAS beneficia políticos de PT, PSDB e PMDB

Único que perdeu até agora com vazamento de que Toffoli recebeu favor foi o próprio Léo Pinheiro. Informação que gerou crise na Lava Jato veio à tona menos de 48h depois da assinatura de termo de confidencialidade.

A decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de interromper as negociações do acordo de delação premiada do empreiteiro José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, tende a beneficiar, em curto prazo, dezenas de políticos do PT, PSDB e PMDB.

Divulgação

Léo Pinheiro, dono da OAS, foi o único que perdeu até agora com decisão de Janot de cancelar sua delação premiada.

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Desde março, quando começou a negociar sua colaboração com a Justiça, o dono da OAS deu depoimentos que produziram cerca de 70 anexos (cada anexo é uma imputação de pelo menos um crime a uma pessoa).

De alto potencial destrutivo, seus depoimentos encrencaram o ex-presidente Lula, os três principais candidatos na última eleição presidencial e importantes membros do governo Temer:

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  • De Lula o empreiteiro falou sobre como bancou as reformas de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia.
  • Dilma Rousseff (PT) pelo pagamento de uma agência que cuidava das mídias sociais da candidata em 2010.
  • Marina Silva (Rede), a quem afirma ter pago contribuições em 2010 por meio de caixa dois.
  • Aécio Neves (PSDB), a quem o empreiteiro diz ter pago propina por meio de um tesoureiro do então governador de Minas na obra da Cidade Administrativa, sede do governo estadual.

O estopim da crise na Lava Jato foi a informação de que o dono da OAS enviou engenheiros da empreiteira para ajudar o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal) a resolver um problema de infiltração em sua casa de Brasília.

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Segundo a revista, Pinheiro relatou que o favor incluiu a indicação de uma firma especializada para tocar a reforma (paga por Toffoli) e, depois da obra, a volta dos engenheiros da OAS para verificar se tudo estava ok.

O furo da Veja abriu uma crise entre o STF e a Procuradoria-Geral da República. Ministros do Supremo reagiram ao vazamento.

No STF, há uma interpretação corrente de que a informação sobre Toffoli partiu dos próprios procuradores para constranger Dias Toffoli, que tomou decisões que contrariavam teses do Ministério Público na Lava Jato, como pelo fatiamento das informações.

Gilmar Mendes criticou duramente o Ministério Público e chegou a dizer que "os cemitérios estão cheios de falsos heróis".

Nelson Jr./STF/Divulgação

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Nesta terça (23), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu uma entrevista em que defendeu o rompimento da negociação com Léo Pinheiro.

"Na minha humilde opinião, trata-se de um quase estelionato delacional em que inventa-se um fato, divulga-se um fato, para que haja pressão ao órgão do Ministério Público para aceitar, dessa ou daquela maneira, eventual acordo de colaboração", disse Janot.

Andressa Anholete / AFP / Getty Images

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Ao sugerir que o vazamento da informação sobre Toffoli visava "pressionar o Ministério Público para aceitar" a delação de Pinheiro, Janot culpou a própria defesa do candidato a delator.

Mas foi Léo Pinheiro, já condenado há 16 anos, quem mais perdeu com o bombardeamento de seu acordo. O BuzzFeed Brasil apurou que ele assinou um termo de confidencialidade, menos de 48 horas depois da Veja estar nas bancas.

As informações sobre Toffoli não constam em nenhum dos anexos de Pinheiro. Na negociação da delação premiada, o anexo só é produzido depois que o candidato a delator informa a quem pretende implicar.

De acordo com o que foi apurado pelo BuzzFeed Brasil, o nome de Toffoli surgiu no final de março numa das primeiras reuniões de Pinheiro com o grupo da Lava Jato, no interior da PGR, quando um dos procuradores quem perguntou sobre Toffoli com base nas informações já apuradas pela PF sobre a proximidade entre o empreiteiro e o ministro.

O primeiro beneficiário da delação de Pinheiro ter subido no telhado pode ser o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), que foi preso sob suspeita de corrupção. O dono da OAS vai depor sobre ele nesta quarta à tarde.

Sem o acordo, ele fica sem ter razões concretas para falar em vez de permanecer em silêncio.

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