Um pequeno guia sobre as sexualidades que você talvez não conheça
A mudança da sigla de "GLS" para "LGBT" até chegar à mais recente "LGBTI+" não foi por frescura nem burocracia.
A mudança da sigla de "GLS" para "LGBT" até chegar às mais recentes "LGBTQ" e "LGBTI+" não foi por frescura nem burocracia. Assim como em muitos outros aspectos humanos, identidade e sexualidade são questões complexas e, com o passar do tempo, suas nuances e diferenças passaram a ser reconhecidas – por isso as mudanças. Estamos aqui para te ajudar a entender um pouquinho melhor tudo isso.
1. Primeiro de tudo: não confunda sexo e sexualidade.
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Como escreve a professora Cristiane Gonçalves da Silva na publicação da UNIFESP para o curso de especialização em Gênero e Diversidade na Escola:
"Gênero é a construção social do sexo, definido como uma caracterização
anatômica e fisiológica dos seres humanos. Há machos e fêmeas na espécie humana, mas a condição de ser homem ou ser mulher só é realizada pela cultura. (...)
A noção de orientação sexual, de modo genérico, refere-se ao sexo ou ao gênero que constitui o objeto de desejo de uma pessoa no qual não está implicado consciência nem intenção, assim como também não necessariamente descreve uma condição da pessoa. Trata-se de algo que apresenta uma grande abertura, portanto, flexibilidade."
Na Alemanha, desde 2013 é permitido que recém-nascidos sejam registrados com gênero indefinido. No Canadá, desde o ano passado pessoas podem incluir que são de sexo neutro em seus documentos.
2. Deixe pra lá o termo "opção sexual", já que "orientação sexual" é muito mais adequado.
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Hoje existe um entendimento de que não existe opção sexual porque "opção" pressupõe uma escolha racional – e a sexualidade parte do desejo, algo muito mais abstrato. Por isso o termo mais indicado é orientação sexual.
Entre as definições da palavra "orientação" no dicionário Merriam-Webster está "direção, inclinação ou interesse geral ou duradouro". Que ajudar a explicar outra definição da palavra, a de "identidade ou auto-identificação sexual de uma pessoa".
3. Intersexuais são pessoas que nasceram com ou desenvolveram características dos dois sexos.
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Provavelmente você já sabe o que é uma pessoa intersexual, mas como explica o Centro de Estudos LGBTQ da Universidade da Carolina do Norte:
"Intersexual é um termo utilizado para se referir a indivíduos nascidos com ou que desenvolvem naturalmente durante a puberdade características biológicas que não são caraterísticas do sexo masculino ou feminino. Ou seja, a pessoa com a condição intersexual nasce com cromossomos sexuais, genitália externa ou sistema reprodutivo interno que não é considerado típico do sexo masculino ou feminino."
O Centro de Estudos também aponta um movimento para eliminar a palavra "hermafrodita" da literatura médica por ela não ser muito precisa, além de já estar estigmatizada. Acima de tudo, uma pessoa intersexual pode não ter problema com a palavra "hermafrodita", mas cabe a ela te dizer que você pode usá-la – não o contrário.
4. Nem todas as pessoas se definem por um gênero e é disso que fala a identidade queer.
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Uma pessoa pode não querer se identificar nem pelo gênero masculino nem pelo feminino. Ou estar entre os dois gêneros. Ou estar além deles. Ou ser uma combinação deles. Algumas expressões que estas pessoas podem usar para se definir são queer, agênero, sem-gênero, de gênero não-binário ou gênero-fluído.
"Queer" é uma palavra em inglês originalmente usada para ofender pessoas de identidades sexuais diferentes, e foi ressignificada com orgulho. Como explica Pedro Paulo Gomes em "A teoria queer e a Reinvenção do corpo", publicado no caderno Pagu do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu da UNICAMP:
"A expressão queer, utilizada como forma de auto-designação – repetindo e reiterando vozes homofóbicas que assinalam a abjeção daquele que é denominado queer, mas descontextualizando-as desse universo de enunciação, já que se atribui valores positivos ao termo, transformando-o numa forma orgulhosa de manifestar a diferença –, pode ocasionar uma
inversão da cadeia de repetição que confere poder a práticas autoritárias precedentes, uma inversão dessa historicidade constitutiva. (Judith Butler, 2002) Algo novo surgiria, então, desse processo, anunciando a irredutibilidade e expressando a incômoda e inassimilável diferença de corpos e almas que teimam em se fazer presentes."
Pessoas queer podem optar por mudanças físicas, sejam hormonais ou intervenções cirúrgicas, e não se identificarem como pessoas transexuais, explica o Centro de Estudos LGBTQ da Universidade da Carolina do Norte.
5. Demissexuais são pessoas que só sentem atração por quem elas criam um vínculo emocional.
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Essas relações também podem ser apenas amorosas, no caso de pessoas que se definem como "demi-românticas". E, como explica o Centro de Estudos LGBTQ da Universidade da Carolina do Norte, uma pessoa pode se considerar "demissexual" sem se considerar "demi-romântico", por exemplo, e o oposto também é possível.
6. Pansexuais são pessoas que se atraem por outras pessoas independentemente de seu sexo ou gênero.
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Pode parecer até um pouco bobo, mas é importante explicar que pansexuais são pessoas que se atraem por pessoas – existe um estigma muito forte sobre a pansexualidade e que foge completamente desse conceito. Segundo o Centro de Estudos LGBTQ da Universidade da Carolina do Norte, pansexuais são pessoas que se atraem por seres humanos independentes de suas identidades de gênero, seu sexo ou da forma como se expressam. Ou seja: uma pessoa que se relaciona com pessoas queer, demi, homo, das tantas outras demais expressões de sexualidade que existem ou até mesmo, veja só você, héteros.
7. Assexuais são pessoas que não sentem atração ou desejo sexual.
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Uma pessoa que faz parte deste grupo é "assexual", não "assexuada" – o termo da biologia que se refere à reprodução sem células diferenciadas dos dois sexos ou às espécies sem órgãos sexuais. Tirando isso do caminho, no livro "Understanding asexuality" o psicólogo Anthony F. Bogaert explica:
A assexualidade pode ser definida como uma falta de atração sexual persistente. Assim, indivíduos assexuais não sentem (e talvez nunca tenham sentido) atração sexual pelos outros. (...)
Pessoas que dizem ter atração sexual pelos outros, mas indicam pouco ou nenhum desejo de ter atividade sexual também podem se auto-denominar assexuais.
Diferente dos celibatários, que escolhem pela abstinência quando ainda há atração ou desejo sexual, a assexualidade é vivenciada por aqueles que não sentem atração ou desejo sexual.
Você por ler mais sobre o assunto no post "12 coisas que você não sabia sobre pessoas assexuais".
E como saber qual é a sexualidade ou identidade de gênero de uma pessoa e não falar alguma coisa ofensiva?
No fim das contas, estas questões são particulares e cada pessoa sabe com qual termo se sente mais confortável. Agora, se você precisa mesmo saber sobre ou se referir à sexualidade ou identidade de gênero de outra pessoa, nada como perguntar educadamente como ela prefere ser chamada.
BuzzFeed Brasil