18 mulheres compartilham a experiência de fazer um aborto ilegal no Brasil

"Fiz tudo por conta e risco. O desespero por saber que eu não poderia encontrar ajuda me fez fazer isso."

O BuzzFeed pediu para suas leitoras que dividissem como foi a experiência de fazer um aborto, pensando em dar voz às principais envolvidas quando se trata deste assunto tão delicado.

No Brasil, o aborto praticado por um médico não é punido legalmente quando a mulher foi vítima de violência e quando a mãe corre risco de morte, como consta no artigo 128 do Código Penal Brasileiro, de 1940. Em 2012, segundo uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o direito também foi estendido para casos em que, comprovadamente, o feto é anencéfalo (sem cérebro).

Recebemos centenas de depoimentos. Eis alguns deles.

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"A sensação era de trauma, culpa e alívio ao mesmo tempo"

"Tomei a decisão sozinha, a gravidez foi acidental, não havia estrutura nenhuma na minha vida naquele momento para ter uma família. Eu tinha 23 anos, morava numa quitinete alugada, trabalhava e fazia faculdade. Não tinha quase dinheiro para passar o mês, mal cuidava da saúde.

Não tive nenhum tipo de apoio do homem em questão. Não conseguia me concentrar nos estudos, no trabalho, estava desesperada. Fui ajudada por dois amigos que me emprestaram dinheiro e uma amiga que me ajudou a encontrar uma clínica clandestina. Cada dia sem encontrar era um desespero.

Tive muito medo porque arrisquei tudo ali. Deixei minha vida nas mãos daquele médico e R$ 3 mil, que foram reembolsados em dois anos aos meus amigos. Contei a duas amigas próximas, que me acompanharam no dia. Faltei ao trabalho e levei bronca. Passei muito mal na volta para casa, vomitei e sangrei durante dias, mas no dia seguinte voltei a trabalhar. A sensação era de trauma, culpa e alívio ao mesmo tempo. Tive medo de ter sequelas, mas abri o jogo com todos os médicos depois.

Com tempo e terapia, vi que fiz a coisa certa. Hoje sou mãe de um filho saudável e planejado, que tem a família pronta e estruturada para ele para o que der e vier." – Mayra, 33 anos

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"Precisei ir ao hospital fazer a limpeza e fiquei com muito medo de descobrirem que foi um aborto induzido"

"Eu tinha 21 anos, um filho pequeno e vivia presa a um relacionamento abusivo com um dependente químico. Descobri tardiamente, já com cerca de seis semanas. Comprei o remédio através de um amigo de um amigo. Paguei caro, fiz o procedimento sozinha em casa, chorei muito e escondida. Foi doloroso física e emocionalmente. Precisei ir ao hospital fazer a limpeza e fiquei com muito medo de descobrirem que foi um aborto induzido, pois poderiam encontrar resquícios do remédio. Não me arrependo da decisão, pois era a única saída para mim na época. Porém o procedimento, o medo e a sensação de abandono foram extremamente traumáticos." – Anônima

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"No final, é sempre a mulher que fica mal. Para o namorado era como se nada tivesse acontecido"

"Quando eu tinha 18 anos e três anos de namoro me descobri grávida. Meu namorado instantaneamente me disse que não podíamos ter esse filho e não me deu escolha – na época eu não sabia que tinha escolha e que não precisava acatar tudo que ele falava. Ele prontamente arrumou dinheiro, o endereço de uma clínica clandestina num bairro nobre do Rio e foi comigo sem remorsos. Eu estava tão desesperada e confusa e foi tudo tão simples e fácil, nem parece que tudo se tratava de um aborto, sabe? As pessoas sorridentes, o médico com voz calma, a clínica bonita... Saímos de lá e eu estava bem tonta e mal, mas não tive nada depois disso, só arrependimento e confusão. No final, é sempre a mulher que fica mal. Para o namorado era como se nada tivesse acontecido. Isso faz 10 anos e eu ainda penso em como teria sido diferente." – Anônima

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"Imagino como seria se eu tivesse tido esses dois filhos"

"Fiz aborto duas vezes. Para dizer isso e conviver com isso com naturalidade levou um tempo. Sempre acreditei que o aborto acontecia em situações em que a gravidez e a média de idade da mulher fosse no máximo 16 anos, no modo mais estereotipado possível. Comigo a situação foi diferente. Sou mãe, casada e abortei quando fiquei grávida pela segunda e terceira vez, sem planejamento meu e do meu companheiro (o mesmo companheiro nas minhas três gestações).

Fiz ambos em situações inimagináveis, na residência de uma senhora que eu não sabia qual o nível cirúrgico, deitada em um tapete da residência dela. A primeira vez foi de certa forma 'tranquila' comparada com a segunda, onde tive certeza de que iria morrer, desmaiei, quis ir para um hospital, passei uma semana com febre muito alta e senti saindo de dentro de mim o feto enquanto urinava. Tenho a memória exata disso dentro de mim.

Imagino como seria se eu tivesse tido esses dois filhos. Semana passada me peguei questionando se as pessoas do meu convívio me perdoariam por isso, mas respondo incessantemente a mim mesma que eu não fiz nada de errado, só eu mesma que fui ferida nisso, eu que vou guardar esse sentimento dentro de mim e não preciso me redimir." – Anônima

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"Pelo fato de ser ilegal, fiquei com medo de ir ao médico depois para ver se estava tudo bem"

"Engravidei num deslize quando tinha 23 anos. Não estava pronta, não queria ter um filho e nem tinha condições. Estava praticamente desempregada, ganhando menos de um salário mínimo. Não quis contar para o pai. Ele era um cara que eu ficava antes, mas estava há alguns meses sem o ver. Na noite que engravidei nos encontramos por acaso. Não quis contar porque tinha medo dele ser contra o aborto e também porque não queria ouvir algo do tipo 'mas você tem certeza de que é meu?'.

Peguei dinheiro emprestado com um amigo e, através de uma conhecida que eu sabia que já tinha feito um aborto, comprei Cytotec. Tomei o remédio num domingo, mas ele só fez efeito cinco dias depois enquanto eu trabalhava. Estava gravando em um clube de São Paulo, tive que fingir que eram apenas cólicas menstruais e fui sofrer no banheiro sozinha. A dor foi grande, mas sobrevivi. Pelo fato de ser ilegal, fiquei com medo de ir ao médico depois para ver se estava tudo bem. Acabei indo uns dois anos depois, fiz exames de rotina e por sorte deu tudo certo." – Samantha, 30 anos

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"Não rolou remorso, culpa, nada disso. Apenas alívio"

"Eu realizei um aborto há quase dois meses. Não foi traumático ou difícil tomar a decisão. Ao suspeitar da gravidez, disse ao meu namorado que não gostaria de dar prosseguimento e ele concordou. Estamos em um momento complicado, eu ainda estudo, faço doutorado, e ele está desempregado. Tínhamos um contato em outro estado. Ligamos, marcamos a consulta e fomos. Fizemos com um ginecologista, pagamos R$ 4 mil, com método de sucção à vácuo. Leva 15 minutos com sedação. A recuperação foi tranquila, com eventuais sangramentos por uns 15 dias. Não rolou remorso, culpa, nada disso. Apenas alívio." – Anônima

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"Eu tinha certeza de que não tinha o preparo necessário e achei injusto inserir mais alguém dentro desse contexto"

"Eu optei por fazer um aborto aos 19 anos por total falta de estrutura psicológica e familiar. Eu tinha certeza de que não tinha o preparo necessário e achei injusto inserir mais alguém dentro desse contexto. Eu e meu namorado não daríamos conta sozinhos, trabalhávamos como estagiários e nem tínhamos começado a faculdade ainda.

Induzi o aborto tomando remédios, tive que parar no pronto socorro de tanta cólica e dores, achei que realmente iria morrer. O médico ameaçou chamar a polícia e fez todo um terrorismo psicológico. Por fim, fui encaminhada de ambulância a um hospital neonatal para avaliar a minha situação. Lá fui acolhida por médicas acostumadas a lidar com a situação, mas impossibilitadas de falar a verdade. Toda a equipe médica sabia o motivo de eu estar lá, mas para constar nos registros fizeram uma simulação de retirada de um cisto.

Eu fui uma privilegiada, pois tinha um bom plano médico, suporte e meu namorado esteve comigo o tempo todo. Também sempre tive certeza de minha decisão, nunca me arrependi. Ainda assim, foi uma das coisa mais difíceis que já passei e que vira e mexe vem à tona." – Tais, 36 anos

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"Eu estava fazendo um aborto dentro de um ônibus, dá para acreditar?"

"Quando tinha 20 anos estava namorando um rapaz há quase dois e, com descuidos muito frequentes, engravidei. Lembro-me que naquela época questões como feminismo não faziam parte da minha gama de pensamentos. Muitas vezes fui quase obrigada a consentir com sexo sem camisinha, caso contrário eu estaria 'estragando o momento'.

Após uma rápida pesquisa na internet, encontrei uma ONG que trabalha em prol de melhores condições para abortos e solicitei o envio de um kit após pagar aproximadamente R$ 200 (essa contribuição não era obrigatória, mas paguei para não perder tempo). A ONG me explicou que muitos pacotes eram apreendidos, então solicitei que fosse enviado para o endereço de um hotel no Paraguai e lá fui eu, viajar 13 horas de ônibus em direção à minha salvação naquele momento. Eu tinha plena consciência de que não estava preparada para ser mãe naquele momento.

A minha maior preocupação era fazer tudo isso o mais rápido possível, pois cada semana que se passava era uma semana a mais de gestação. Meu namorado foi junto. Chegamos no hotel e a primeira coisa que fiz foi tomar um dos comprimidos, morrendo de medo dos efeitos colaterais , que não vieram logo de cara. Voltando para o Brasil, dentro do ônibus, os sintomas vieram à tona. Uma cólica que nunca senti antes, que vinha em forma de doloridas pontadas (como contrações), muito sangue (eu tinha que ir ao banheiro a cada 10 minutos para trocar o absorvente) e muita diarreia. Náuseas e dor de cabeça também fizeram parte desta longa viagem.

Além de tudo, tive que lidar com a incompreensão do meu namorado na época, que estava achando tudo um exagero e inclusive ficou bravo comigo muitas vezes durante a viagem. Eu estava fazendo um aborto dentro de um ônibus, dá para acreditar? Chegamos na minha cidade, fui direto para casa me sentindo muito mal. Tinha que trabalhar no outro dia, mas os sintomas ainda estavam fortes, então não fui. Passei o dia inteiro deitada com uma garrafa de água quente na barriga e falando para minha mãe que estava doente, com algum tipo de diarreia. Fiz tudo por conta e risco. O desespero por saber que eu não poderia encontrar ajuda me fez fazer isso." – Anônima

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"Era a decisão que precisava ser tomada naquele momento"

"Eu tinha 25 anos e já era mãe de uma garota de 3. Tinha acabado de me separar do pai da minha filha e estava em um novo relacionamento, engravidei do namorado no nosso terceiro mês de namoro. Tinha certeza de que não queria um novo bebê. Engravidei no primeiro ano da minha graduação e ainda estava estudando, já era bem difícil com uma criança; com duas seria impossível, teria que desistir.

Fiz o meu aborto em uma clínica clandestina em São Paulo. Eu descobri rápido que estava grávida, estava na sexta semana quando realizei o procedimento, que foi muito simples e tranquilo. Eu fiquei de jejum por 12 horas antes do procedimento, o médico me sedou e utilizou algo como um aspirador para retirar o feto. Foi bem rápido, uns 15 minutos. Eu recebi antibiótico na veia, fiquei em observação uma hora depois do procedimento e mantive contato com o médico durante a semana seguinte, inclusive voltando numa consulta para ver se estava tudo certo.

É claro que um aborto desse tipo custa muito caro, eu paguei R$ 3.500. E é óbvio que o médico não queria correr o risco de ser denunciado por conta de alguma infecção, então o 'cuidado' que ele teve era para garantir a própria segurança. Eu não me arrependo, era a decisão que precisava ser tomada naquele momento e, graças a ela, consegui terminar a graduação e já considero uma nova gestação com mais tranquilidade." – Anônima

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"Teria condições de manter. Mas não quis"

"Não tomei corretamente o anticoncepcional e engravidei. Com 20 anos, no meio da faculdade e com uma vida inteira pela frente. Sou de família de classe alta, poderia ter o filho. Teria condições de manter. Mas não quis. Não quis por não ter maturidade suficiente, não quis porque estava no meio da faculdade de direito com mil planos profissionais pela frente, não quis porque essa decisão é minha.

Abortei com quatro semanas de gravidez. Contei com a ajuda dos meus pais, que apoiaram minha decisão desde o início. O procedimento foi feito em uma clínica, com um médico obstetra e paguei R$ 5 mil reais por isso. Não me arrependo. Sei que não era a hora de ter filho, sei que não tinha maturidade suficiente, sei que seria uma escolha que acarretaria inúmeras consequências e eu não estava pronta pra lidar com elas.

Meu aborto foi assim e sei que sou privilegiada por não ter sentido dor nenhuma e nem ter tido qualquer tipo de problema de saúde." – Ana, 22 anos

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"Passei duas noites sem dormir, remoendo o que fazer, como dizer para as pessoas, para os meus pais e, principalmente, para meu namorado"

"Eu estava namorando há uns cinco meses quando comecei a ter enjoos quase todo dia, mas não atinei para gravidez porque tomava remédio. Daí tive uma consulta de rotina na ginecologista e ela que falou. Levei uma baita susto, não era possível. Mas era, o exame de sangue confirmou. Eu tinha acabado de ser promovida no trabalho, entrado numa pós e o namoro era muito recente.

Passei duas noites sem dormir, remoendo o que fazer, como dizer para as pessoas, para os meus pais e, principalmente, para meu namorado. Daí veio um segundo baque, peguei ele me traindo, tivemos uma briga muito séria, quase sofri violência. Então tomei a decisão de tirar.

Procurei pela internet como fazer e fui a uma espécie de consultório, onde o médico (era médico mesmo) disse que, por estar no começo, bastava tomar uns comprimidos. Comprei ali mesmo e voltei para casa. Mas não tomei, resolvi pensar mais um dia.

Quando acordei no dia seguinte, estava com sangue na calcinha. Fui ao mesmo consultório e o médico verificou que sofri aborto espontâneo. A natureza decidiu por mim. Mas eu já tinha decidido fazer mesmo. Minha vida iria mudar de uma forma que eu não queria mesmo, por isso tomava anticoncepcional. Até hoje só sabem dessa história minha mãe, minha ginecologista e o médico que me forneceu o remédio abortivo. Nem meu ex sabe." – Anônima

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"Foi a pior experiência da minha vida"

"Descobri que estava grávida com quatro semanas de gestação e me desesperei. Soube de uma amiga que tinha tomado o famoso Cytotec e decidi me arriscar. Não conhecia ninguém pra me indicar uma clínica e, como estava desesperada, me dei a procurar o remédio nos bairros mais 'bagunçados' da cidade.

Acabei achando em uma farmácia bem duvidosa e paguei R$ 300. Li todas as informações online, esperei uns dias pra me acalmar e tomei os seis comprimidos sublinguais. Meu maior medo era a procedência desse remédio, se ele era verdadeiro. Tomei e sangrei intensamente por duas semanas.

Após 15 dias do uso do medicamento, fiz um exame transvaginal e vi que tinha 'dado certo'. Foi a pior experiência da minha vida." – Anônima, 27 anos

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"O ginecologista perguntou se eu sabia que estava grávida e tive que negar"

"Eu tinha 16 anos quando aconteceu. Tinha perdido a virgindade há pouco tempo, estava na escola e fazia curso técnico. Descobri estar grávida de quatro semanas quando a menstruação atrasou. Eu tomava anticoncepcional regularmente por isso não usávamos camisinha. Não contei para ninguém quando descobri, meus pais ficariam bravos e meu namorado ia escolher seguir com a gestação. Eu não podia estar grávida, não queria!

Consegui Cytotec em um grupo de meninas no Facebook e tomei conforme indicaram. Não fez efeito de primeira e achei que não tivesse funcionado. Acordei durante a noite sentindo a cama molhada, corri para o banheiro e era sangue, muito sangue mesmo. Tomei banho e o sangue não parava. Coloquei um absorvente e chamei minha mãe, corremos para o hospital sem avisar meu pai ou namorado.

O ginecologista perguntou se eu sabia que estava grávida e tive que negar, ninguém podia saber. Fui bem maltratada pelas enfermeiras que cuidaram da minha hemorragia, elas mandavam indiretas falando entre elas em como as jovens eram 'cada vez mais vagabundas'.

Me sinto imunda até hoje, foi um trauma gigantesco que ainda passa pelos meus pesadelos. Apesar de tudo, não me arrependo. Não tinha e nem tenho condições de manter uma criança. Depois de alguns meses, meu namorado terminou comigo. Até hoje ele não sabe, nem ele nem ninguém." – Victoria, 18 anos

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"Sabia que seria responsabilizada por isso, e não quem invadiu meu corpo"

"Escolhi pelo aborto induzido aos 15 anos, pois aos 14 fui estuprada por um 'amigo'. Comprei remédio e tomei muito chá, quis ir a um pronto atendimento, mas sabia que seria responsabilizada por isso, e não quem invadiu meu corpo.

Fiz todo o procedimento sozinha, passei mal por 15 dias ininterruptamente, senti dores absurdas, e mesmo assim não me arrependo. Meus pais descobriram porque faltei muito na escola e, como não tinha mais desculpas para eles não me levarem a um hospital, acabei contando. Não quero ter um filho nunca.” - Anônima, 18 anos

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"A dor era agonizante, mas o alívio em saber que não iria precisar me preocupar mais com aquilo era maior"

"Descobri que estava grávida numa manhã de segunda-feira. O choque foi enorme pois tenho endometriose e me falaram que as chances de eu engravidar eram praticamente nulas. Quando vi o resultado positivo no teste já sabia que não levaria aquilo adiante, não tinha a menor hipótese. Era recém formada na faculdade, estava começando a tentar minha carreira naquele momento e eu e o pai apenas ficávamos esporadicamente.

Contei para ele e tive todo o apoio em minha decisão de interromper. Eles esteve presente em todos os momentos, inclusive no dia em que usei os comprimidos de Cytotec, comprados por intermédio de um conhecido na cidade de São Paulo por R$ 400. Estava de cinco semanas. A dor era agonizante, mas o alívio em saber que não iria precisar me preocupar mais com aquilo era maior. Foi a pior tarde da minha vida, mas em momento nenhum me arrependi da minha escolha." – Anônima, 24 anos

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"Sempre tive esta certeza: não era o momento, muito menos com aquela pessoa"

"Descobri uma gravidez indesejada por acaso, em 2010. Me sentia muito enjoada durante alguns períodos e realmente achei que estivesse com uma doença muito grave, tamanho o desconforto. Mas jamais pensei em uma gravidez.

Entrei em pânico, tinha apenas 26 anos e, apesar de morar sozinha, mal conseguia me sustentar. Tinha um namorado e vivíamos em guerra, nossa convivência era como cão e gato, de tão insuportável. Justamente por esse motivo decidi interromper. Sempre tive esta certeza: não era o momento, muito menos com aquela pessoa.

Através de uma amiga consegui o endereço de uma clínica, marquei e fui. Mas antes, precisava fazer um exame para confirmar e ouvi o coração do bebê. Confesso que me emocionei (e ainda me emociono), mas era inviável levar a situação adiante. Fiz o procedimento, paguei muito caro, fui muito bem assistida pela clínica e não me arrependo." – Anônima

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"Por muito tempo foi difícil aceitar o que fiz por sempre ter sido contra"

"Eu tinha 19 anos, meu namorado tinha acabado de se mudar para outro estado e resolvemos terminar por causa da distância. Quando a minha menstruação atrasou, fiz um teste de farmácia e deu positivo. Liguei para a minha psicóloga e falei o que estava acontecendo. Ela me falou para fazer um exame de sangue e me indicou uma ginecologista, que me orientou.

Quando eu decidi que preferia interromper, a ginecologista me indicou um médico. Entrei em contato com ele, que explicou que custava R$ 2 mil em dinheiro vivo. Levei o dinheiro no dia combinado, acertei com a recepcionista, me deram anestesia, acordei com muita dor e vontade de fazer xixi. Fiquei na clínica até estar consciente, peguei um táxi e fui para casa.

Por muito tempo foi difícil aceitar o que fiz por sempre ter sido contra. Depois que voltei com meu namorado e contei o que aconteceu, ele também ficou mal por um tempo. Ainda descobri que ele estava há meses envolvido com drogas e tive certeza de que não poderia dar uma boa vida para uma criança com um pai sempre drogado e eu totalmente desequilibrada.

Não me arrependo, mas hoje me cuido tomando anticoncepcional e usando camisinha. Não estou mais com aquele que seria o pai do meu filho e fico aliviada por não ter tido filhos com ele. Dei sorte por ter feito tudo com muita segurança e gostaria que outras mulheres que passam por essa experiência traumática que é o aborto também pudessem fazê-lo de modo seguro. " – Anônima, 24 anos

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"Nunca são fáceis estas decisões. Mas fiz o que julgava necessário"

"Aos 16 anos eu estava em um relacionamento abusivo. Engravidei. Eu era uma criança, estava no ensino médio e o pai do bebê não era uma pessoa legal. Optamos por abortar. Minha mãe maravilhosa me deu direito de escolha, me levou a uma clínica, enorme, limpa, bonita, desses lugares que passam confiança. Sorte que eu tive essa oportunidade: fazer um procedimento clandestino num local assim. Infelizmente tem gente que não tem.

Segui no relacionamento abusivo que só piorou. Este aborto, somado a este relacionamento, resultou em cinco meses de depressão. Mas não me arrependo, fiz o que tinha que fazer na época.

Hoje, aos 29 anos, engravidei tomando anticoncepcional, de um amigo muito bacana. Optei por não ficarmos juntos, mas ele é meu parceiro, tenho certeza que será um grande pai. De qualquer forma, outro choque. Porém, hoje formada, independente, com mais idade, optei por ter o bebê. Confesso que é difícil, mas também sei que hoje é a decisão correta para mim. E sei que lá na frente, vai ter valido a pena.

Hoje, o aborto não me coube. Mas lá atrás, mesmo com toda tristeza que me acarretou, me serviu. O corpo que habito me pertence. Nunca são fáceis estas decisões. Mas fiz o que julgava necessário. E me orgulho. Tudo o que passei e passo me transformaram na pessoa que sou hoje. Sou mulher e sou dona do meu corpo." – Anônima, 29 anos

Os depoimentos foram editados por questões de clareza e/ou tamanho.

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