Peça-chave no julgamento do caso Fifa, que acontece em Nova York, o brasileiro José Hawilla disse que pagava propinas a Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, como forma de garantir contratos.
Conhecido como J. Hawilla, ele era dono da empresa Traffic, que intermediava direitos de transmissão de eventos esportivos.
Sem mencionar datas, ele disse que começou pagando US$ 1 milhão a Ricardo Teixeira, em troca de um contrato da Copa América. Os valores foram gradativamente subindo, até chegar a US$ 3 milhões.
Ele afirmou que parte da propina a Ricardo Teixeira e a Julio Grondona, ex-dirigente da Argentina morto em 2014, era paga como forma de garantir que os melhores atletas dos dois países estivessem na Copa América.
Para isso, segundo o delator, ele se valia de doleiros, que recebiam o dinheiro e se encarregavam da entrega.
O delator disse que deixou de pagar quando um "golpe de estado" tirou poder de Ricardo Teixeira no controle da Conmenbol e, consequentemente, dos contratos da Copa América.
Em 2010, uma conversa entre J. Hawilla e Luis Chiriboga, da confederação do Equador, selou o destino dos contratos da Copa América. Chiriboga reclamava que o empresário não pagava propina a todos os dirigentes da Conmebol.
"Não quero perder tempo. Agora nós que estamos com o poder na Conmebol e a Traffic está fora", disse o equatoriano, de acordo com o relato do delator. J. Hawilla ainda tentou argumentar que o contrato estava em vigor e não poderia ser rompido. ˜Eu posso e acabei de fazer", foi a resposta do equatoriano.
O BuzzFeed News não localizou Ricardo Teixeira ou sua defesa. Em entrevista à Folha, ele disse que não pretendia fazer delação nos EUA.
"Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não", disse.
Gravações
Ao longo do depoimento, J. Hawilla falou também sobre as gravações que fez como forma de provar o esquema que delatou.
Uma delas foi uma conversa travada com José Marguilies, identificado como uma espécie de operador financeiro. Era setembro de 2014, logo após a Copa no Brasil. J. Hawilla perguntou sobre como eram os pagamentos a Ricardo Teixeira.
Ele respondeu que fez três ou quatro pagamentos usando contas de Hong Kong e Jerusalem, além de doleiros. "Marco Antonio costumava me ligar e perguntas dos pagamentos", disse Marguilies. Marco Antonio é tio de Ricardo Teixeira.
O delator ainda apresentou uma conversa com Alejandro Burzaco, empresário argentino da Torneos, que também negociava contratos e virou delator. Outro que participava do diálogo era Hugo Jinkis, da Full Play, outra empresa envolvida no esquema.
A conversa era sobre os riscos e se haveria chances de uma investigação prendê-los. "Estamos todos presos. Todos", disse Burzaco. "Esse é o risco do negócio, sempre vivemos com isso. Quero fazer um pagamento negro mas queremos fazer que se veja como branco. E assim são as coisas", completou Jinkis.