E o Facebook desativou recursos que ajudaram a pegar criminosos de guerra e pedófilos

    As mudanças do Facebook são "um potencial desastre para a comunidade de direitos humanos".

    Quando Alexa Koenig soube da decisão repentina do Facebook de desativar na semana passada um conjunto de recursos de pesquisa avançada, a chamada "graph search", ela se lembrou de um comandante militar líbio chamado Mahmoud Mustafa Busayf al-Werfalli.

    Em agosto de 2017, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra Werfalli pela acusação de participar ou de ordenar a execução de 33 pessoas em Benghazi, na Líbia. Entre as principais provas contra ele estão sete vídeos, alguns dos quais foram encontrados no Facebook, que mostram Werfalli cometendo crimes. Seu caso foi a primeira vez que o TPI emitiu um mandado de prisão baseado sobretudo em material coletado nas mídias sociais.

    Agora, esse tipo de trabalho está ameaçado, segundo Alexa, diretora-executiva do Centro de Direitos Humanos da Universidade da Califórnia em Berkeley. Ela disse que a recente decisão do Facebook de desativar a graph search pode ser um "desastre" para a pesquisa de direitos humanos.

    “Dificultar ainda mais a pesquisa no site por parte dos ativistas de direitos humanos e investigadores de crimes de guerra — bem quando eles estão percebendo a utilidade do rico acervo de informações sendo compartilhadas online para documentar abusos — é um potencial desastre”, disse ela. “Precisamos que o Facebook trabalhe conosco e facilite o acesso a essas informações, e não dificulte.”

    Resumindo, a graph search do Facebook era uma forma de receber uma resposta para uma consulta específica na plafatorma, como “pessoas no Nebraska que curtem Metallica”. Usando a graph search, é possível encontrar conteúdo público — e apenas público — que é difícil de acessar buscando por palavras-chave.

    No final da semana passada, o Facebook desativou vários recursos que há muito tempo eram acessíveis pela graph search, como a possibilidade de encontrar vídeos públicos nos quais um usuário específico do Facebook tenha sido marcado. Isso provocou uma onda de preocupação entre pesquisadores de direitos humanos, jornalistas e autoridades.

    Alguns deles disseram ao BuzzFeed News que a decisão, não anunciada publicamente, mostra como a resposta do Facebook aos escândalos do uso de dados — e seu consequente esforço para enfatizar a defesa da privacidade dos usuários — acaba dificultando a investigação do que acontece na plataforma.

    No ano passado, por exemplo, quando enfrentava críticas após as revelações da Cambridge Analytica, o Facebook desativou recursos que investigadores usam para encontrar pessoas na plataforma.

    Um porta-voz do Facebook enviou um e-mail ao BuzzFeed News dizendo que a empresa “pausou” alguns recursos de graph search.

    “A grande maioria das pessoas no Facebook pesquisa usando palavras-chave, um fator que nos levou a pausar alguns aspectos da graph search e nos concentrar mais em melhorar a pesquisa por palavras-chave. Estamos trabalhando junto com os pesquisadores para garantir que eles tenham as ferramentas necessárias para usar nossa plataforma."

    Quando Mark Zuckerberg apresentou pessoalmente a graph search no início de 2013, ele a classificou com a mesma importância do feed de notícias e da linha do tempo do perfil do Facebook. No dia do lançamento, a empresa também fez uma publicação oferecendo aos jornalistas dicas sobre como usar a graph search.

    Ao longo dos anos, a graph search se tornou uma ferramenta valiosa para investigadores, policiais e jornalistas. Ao mesmo tempo, a mídia social se tornou uma fonte importante para descobrir crimes de guerra, campanhas de desinformação, exploração infantil e outros crimes e abusos.

    Eliot Higgins, pioneiro das investigações de código aberto e fundador da Bellingcat, uma organização sem fins lucrativos de jornalismo investigativo, disse que as mudanças do Facebook já estão prejudicando esse trabalho.

    “Resumindo, essas mudanças tornaram mais difícil investigar possíveis crimes de guerra. Isso afeta muitos investigadores que trabalham em diversos temas, e o fato de que as mudanças foram feitas sem nenhum anúncio aparente agrava ainda mais a situação”, disse ele.

    Sam Dubberley, da Anistia Internacional, disse ao BuzzFeed News que a graph search e o Facebook como um todo são essenciais para o trabalho da organização.

    “Há muitos países no mundo que a Anistia Internacional tem que cobrir pelo monitoramento de publicações nas redes sociais — incluindo o Facebook — porque não conseguimos chegar lá”, disse ele.

    Dubberley chamou a decisão do Facebook de remover a funcionalidade de graph search sem aviso prévio ou consulta de "um movimento profundamente preocupante".

    A mudança preocupou ainda mais as comunidades de direitos humanos e jornalismo investigativo porque o Facebook pareceu impedir as tentativas de encontrar soluções alternativas. Henk van Ess, um investigador e instrutor que trabalha com a Bellingcat, opera uma ferramenta que usa a graph search para permitir pesquisas poderosas de conteúdo público. Depois que o Facebook desativou algumas buscas, ele conseguiu encontrar soluções alternativas — até que a empresa as bloqueou.

    “Corrigi minhas ferramentas 5 vezes e, a cada 2 horas, as ferramentas eram incapacitadas pelo FB”, ele escreveu em uma mensagem direta no Twitter. “Outros criadores de ferramentas vivenciaram a mesma coisa.”

    Inti De Ceukelaire, criador do StalkScan, outra ferramenta que permitia buscas de conteúdo público na plataforma, anunciou que foi forçado a alterá-la para permitir que as pessoas pesquisassem somente conteúdo relacionado ao seu próprio perfil.

    As of today, https://t.co/HsYTgKX39l will only work for your own profile as a privacy checkup tool. It was used by 8M+ people. Facebook did NOT remove the Graph Search, they only made it less transparent and harder to use. That's what I call privacy by obscurity.


    Este post foi traduzido do inglês.

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