Por que a campanha da Always não é tão legal quanto parece

A aproximação forçada dos significados de "vazamento" e o uso de imagens da Sabrina com cara de "vazadas" arruinaram um debate que podia ser bom.

Ontem um vídeo da Sabrina Sato "vazado" apareceu na internet.

São uns poucos segundos em que Sabrina levanta da cama só de calcinha (mas com cabelo feito e maquiagem ótima) e se afasta da câmera. Parece que o vídeo está sendo feito por alguém em um momento íntimo com a apresentadora.

O vídeo saiu do ar algumas horas depois, mas foi reproduzido com títulos duvidosos no YouTube.

Reprodução

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Hoje de manhã a Sabrina divulgou este outro vídeo para "explicar" as cenas do dia anterior. Na verdade, tudo era parte de uma campanha de conscientização sobre o vazamento de imagens íntimas de mulheres na internet.

A iniciativa de falar sobre o tema é ótima. Mas não é meio contraditório usar um suposto vídeo vazado para dizer que é errado vazar vídeos íntimos?

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Além disso, a campanha, criada pela agência Leo Burnett, é baseada em uma comparação esquisita de dois sentidos da palavra "vazamento": o de menstruação -- um incidente constrangedor, porém natural -- e o de imagens íntimas -- que é um crime.

Tudo fica ainda mais desconfortável quando vemos essa imagem da campanha:

Reprodução / Via Facebook: alwaysbrasil

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Parece muito estranho usar toda a estética de uma imagem íntima vazada -- a mulher nua, meia-luz, sentada na cama descontraidamente mexendo no celular -- para dizer que é errado vazar imagens íntimas.

E esta outra, que ainda por cima tem aquela distorção das partes íntimas, deixando a foto com mais cara ainda de imagem vazada sem consentimento?

Reprodução / Via Facebook: alwaysbrasil

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A campanha é da Always, marca de absorventes, em parceria com a ONG Safernet, que listou algumas dicas no site oficial da marca. A primeira era esta: "Se você não quer que suas fotos e vídeos sejam expostos, evite enviá-los para outras pessoas".

Reprodução / Via Twitter: @GustaMociaro

Uma dica com linha de raciocínio perigosamente próxima ao velho pensamento "se não quiser ser estuprada, não saia de casa usando roupas curtas".

Reprodução / Via Facebook: alwaysbrasil

Os próprios responsáveis pela campanha devem ter percebido isso rapidamente -- tanto que esta dica foi tirada do ar e substituída por orientações práticas que realmente podem ajudar uma vítima deste tipo de crime, como esta:

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Lembrando que não há problema algum uma marca endossar uma campanha de conscientização. A Benetton, por exemplo, já fez isso nesta campanha em parceria com a ONU pelo fim da violência contra a mulher.

E a própria Always já acertou muito com a campanha "Like a Girl".

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Veja também: <a href="http://www.buzzfeed.com/rafaelcapanema/este-e-o-video-mais-patetico-da-campanha-da-always?bffb&bftw&utm_term=4ldqpfs#4ldqpfs">Este é o vídeo mais patético da campanha da Always</a>

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