Pai de carcereiro morto por preso em Manaus recebeu R$ 5.000 de indenização

    William Bezerra de Souza, de 24 anos, trabalhava na penitenciária Anísio Jobim quando foi jurado de morte. Solto, o preso cumpriu a ameaça e o assassinou a tiros.

    O agente penitenciário William Bezerra de Souza, 24 anos, tinha medo de trabalhar no complexo Anísio Jobim, em Manaus, palco de 56 das 102 mortes de presos neste ano.

    "Ele usava até remédio controlado", diz ao BuzzFeed Brasil o vendedor Francisco de Souza, 47, pai do vigilante. Em 2015, um detento jurou William de morte — e cumpriu a ameaça.

    O crime aconteceu em um beco de Manaus, por volta das 5h da manhã, em 23 de abril de 2015. William foi atingido por três tiros, dois na cabeça e um no peito, e morreu na hora. À época, a polícia do Amazonas apontou como principal suspeito do crime um traficante conhecido na região como Thor.

    Desempregado e pagando a faculdade da filha, Francisco resolveu entrar na Justiça para pedir uma indenização.

    "Eu estava super atrasado de tudo, sem cabeça para o trabalho", conta o pai. "Os colegas dele disseram que eu tinha direito a uma indenização de R$ 15 mil", continua.

    O advogado Valcerlan Ferreira Cruz, que representou Francisco, conta que logo de início foi difícil encontrar representantes da Umanizzare, empresa responsável pela administração do presídio que havia contratado William.

    "Na época [do crime] ele procurou a Umanizzare para pagar os custos do funeral e não encontrou ninguém", afirma o defensor. "A gente estava procurando a empresa em Manaus e pedi para o juiz citá-la em Goiânia [onda há uma sede]", diz. "Aí algum advogado entrou em contato e me ofereceu uma proposta."

    A primeira oferta da empresa foi de R$ 3.000 de indenização, valor que Francisco logo recusou.

    Algumas semanas se passaram antes de a Umanizzare entrar em contato novamente e aumentar o valor para R$ 5.000, ainda muito aquém dos R$ 15 mil a que Francisco imaginou que teria direito inicialmente. Dessa vez, porém, a empresa buscou o pai da vítima diretamente, sem falar com seu advogado antes.

    Francisco aceitou a oferta.

    "A partir do momento em que você nomeia a Justiça para resolver uma questão, tem que haver um desfecho", diz Valcerlan, ao lamentar que seu cliente tenha aceitado os R$ 5.000.

    Para Francisco, no entanto, a questão era outra. Ele estava desempregado, com boletos se acumulando, e já não contava mais com a ajuda financeira do filho. "A gente pede força a Deus", conta baixinho ao telefone, triste ao relembrar sua perda.

    No último dia 3, o governador do Amazonas, José Melo (Pros), determinou que as famílias dos presos mortos em Manaus recebam indenização. O valor a ser pago não foi definido.

    Em março do ano passado, o Supremo Tribunal Federal definiu que o Estado é obrigado a ressarcir familiares de detentos mortos.

    Sobre o assassino de seu filho, Francisco não gosta de falar. "Parece que prenderam, mas eu não quero me meter com isso", ele desconversa. "A vontade que eu tenho é vender tudo e voltar para o Ceará."

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