A PF deflagrou nesta quinta (1º) a Operação Cifras Ocultas, para investigar pagamentos de R$ 2,6 milhões em caixa 2 que a empreiteira UTC fez para gráficas que atuaram na campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, em 2012.
O ex-prefeito será intimado a depor.
A Polícia Federal cumpriu nove mandados de busca e apreensão em locais ligados às gráficas e aos donos delas, como o ex-deputado estadual Francisco Carlos de Souza, conhecido como Chico Gordo (PT).
Segundo o delegado Rodrigo de Campos Costa, titular da delegacia regional de combate ao crime organizado, a Justiça Eleitoral negou pedidos de prisão que a PF fez, inclusive um em nome de Chico Gordo.
O delegado não disse quais outras pessoas a polícia quis deter, mas acrescentou que pedirá que Haddad seja intimado para prestar depoimento. O petista nega irregularidades (leia nota ao final do texto).
A investigação teve início em 2015, um desdobramento da Lava Jato, com a delação de Ricardo Pessoa, dono da UTC.
Ele disse que, durante a campanha de 2012, foi procurado pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto — preso em Curitiba desde abril de 2015 —, que requisitou R$ 3 milhões em caixa 2 para a campanha de Haddad.
O valor, depois, foi renegociado para R$ 2,6 milhões, quantia que eventualmente foi paga em depósitos bancários e em espécie às gráficas Souza & Souza e LWC, ambas ligadas a Chico Gordo.
Ao menos uma dessas gráficas também é investigada por prestar serviços à campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) em 2014.
Os repasses foram realizados pelo doleiro Alberto Youssef, primeiro delator da Lava Jato. "Youssef usava empresas de fachada para pagar o dinheiro às gráficas", afirma o delegado Costa.
As gráficas aparecem na prestação de contas petista à Justiça Eleitoral, porém com valor bastante inferior: R$ 354 mil.
Em nota, o ex-prefeito Haddad disse que a gráfica de Chico Gordo "prestou apenas pequenos serviços devidamente pagos pela campanha e registrados no TRE."
No texto, o petista também busca desqualificar a delação de Ricardo Pessoa, afirmando que os interesses da UTC foram contrariados durante a gestão Haddad na Prefeitura de São Paulo. Leia a íntegra abaixo.
Com relação a Operação Cifras Ocultas, deflagrada hoje de manhã pela Polícia Federal, o ex-prefeito Fernando Haddad, por sua assessoria, informa que a gráfica citada, de propriedade do ex-deputado Francisco Carlos de Souza, prestou apenas pequenos serviços devidamente pagos pela campanha e registrados no TRE.
A UTC teve seus interesses contrariados no início da gestão Haddad na Prefeitura, com o cancelamento das obras do túnel da avenida Roberto Marinho, da qual fazia parte junto com outras empreiteiras igualmente envolvidas na Lava Jato. O executivo da UTC, Ricardo Pessoa, era dos mais inconformados com a decisão.
O propalado repasse de R$ 2,6 milhões, se ocorreu, não tem nada a ver com a campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo em 2012, até porque seria contraditório uma empresa que teve seus interesses prejudicados pela administração, saldar uma dívida de campanha deste administrador.