As 10 notícias falsas sobre a Lava Jato mais compartilhadas no Facebook em 2016 superaram em quantidade de interações as 10 notícias verdadeiras sobre a operação mais compartilhadas.

Atualização, 23 de novembro de 2016, às 16h05: a primeira versão deste texto continha um erro. A correção está explicada ao final da reportagem.
Desde janeiro, as 10 principais notícias falsas tiveram 3,9 milhões de compartilhamentos, reações e comentários, enquanto as 10 reportagens mais populares sobre o mesmo tema somaram 2,7 milhões de interações.
A conclusão é de uma análise feita pelo BuzzFeed Brasil com base em dados de interação informados pelo Facebook. No levantamento, foram considerados notícias apenas textos com pretensão informativa — a análise exclui blogs de opinião e sites institucionais, por exemplo.
De maneira geral, o desempenho das informações falsas no Facebook é muito superior ao das reportagens reais.
Exemplo disso é que um único texto do G1, publicado quando o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) virou réu no Supremo, é responsável por 1,1 milhão do total de 2,7 milhões de engajamentos que as 10 maiores notícias tiveram somadas.

A notícia falsa mais compartilhada, sobre o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), teve 596 mil engajamentos — número menor que o do G1, porém maior que todo o resto das notícias verdadeiras que chegaram ao top 10.
O texto foi publicado pelo site A Folha Brasil, que posta apenas notícias falsas e cuja aparência — logotipo e slogan — é muito semelhante à do jornal Folha de S.Paulo:

Oficialmente, o site está registrado em nome do "repórter" que assina todos os textos — Josias Oliveira, que provavelmente é um pseudônimo. Um indício de que o nome é tão inventado quanto o conteúdo do site é o CPF vinculado ao registro, que pertence a uma estudante universitária de 24 anos que mora no Espírito Santo.
Repare que à direita, na imagem acima, há um banner publicitário. Essa é a vantagem de ser dono de um grande site de notícias falsas — lucrar com a quantidade de visitantes que clicam nos links e, consequentemente, veem a publicidade. Quanto mais gente vê os banners, mais dinheiro a página gera.
Também foram consideradas falsas notícias com títulos enganosos. É o caso de textos do site Brasil Verde-Amarelo, da empresa mineira Ethernize Produções. No exemplo abaixo, o site distorceu uma informação do jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo a reportagem original, a Lava Jato investiga compras de termoelétricas feitas durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) — mas não diz que o tucano é investigado. O site deu o seguinte título à notícia:

Na semana passada, o BuzzFeed News revelou que, nos três últimos meses da campanha eleitoral nos Estados Unidos, as notícias falsas superaram em engajamento as verdadeiras.
Alguns dos maiores boatos sobre a Lava Jato não aparecem no levantamento porque foram disseminados de fontes diversas — ou seja, não há um único site que concentre a informação falsa.
Um exemplo é a frase: “Não temos como provar, mas temos convicção”. Ela foi atribuída, falsamente, a um procurador da Lava Jato que denunciou o ex-presidente Lula. Em setembro, o BuzzFeed Brasil mostrou que a informação é infundada.

Procurado, o Facebook não quis comentar esta reportagem.
Na semana passada, o CEO e fundador Mark Zuckerberg escreveu que a empresa "leva a desinformação a sério".
(Leia a íntegra aqui, em inglês.)
Também na semana passada, a empresa disse ao BuzzFeed News que o desempenho dos links com mais engajamento não reflete o conjunto total de compartilhamentos, reações e comentários feitos pelos usuários na rede social.

Durante uma conferência há duas semanas, Zuckerberg afirmou que o argumento de que notícias falsas na rede social têm o poder de afetar uma eleição eram “uma ideia bem maluca”.
Em resposta, funcionários da empresa se reuniram em uma força-tarefa informal para questionar o papel que a rede social teve na vitória do republicano Donald Trump, ao não combater a profusão de notícias falsas compartilhadas.
Estas são as 10 notícias falsas sobre Lava Jato com mais engajamentos no Facebook desde o início do ano:

E as 10 notícias (reais):

Atualização, 23 de novembro de 2016, às 16h05: A primeira versão deste texto incluiu, por erro da reportagem, um link do site Sul Connection na lista de notícias falsas.
Sob o título "Celso de Mello define Lula: torpe, indigno, autocrata, arrogante e primário", o Sul Connection relatou um comentário do decano do STF sobre a gravação em que o petista critica o Judiciário durante um telefonema à então presidente Dilma Rousseff. Celso de Mello disse, textualmente:
"Esse insulto ao Poder Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte desta Corte Suprema, traduz, no presente contexto da profunda crise moral que envolve os altos escalões da República, reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto leviano e irresponsável, o temor pela prevalência do império da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de Juízes livres e independentes."