Há 3 anos, Bolsonaro zombou da tortura sofrida por Miriam Leitão. Hoje à noite eles estarão frente a frente
Durante a ditadura, a jornalista foi trancada em uma sala do Exército junto com uma jiboia. Bolsonaro declarou: "Coitada da cobra", e reiterou a frase em entrevista a um dos filhos de Miriam, Matheus Leitão.
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) ficará frente a frente, nesta sexta (3), com a jornalista Miriam Leitão, que foi torturada durante a ditadura pelo coronel Paulo Malhães (1938-2014) ao ser presa, durante horas, em uma sala com uma jiboia.
Ao comentar o episódio, Bolsonaro declarou: "Coitada da cobra". Em 2015, em entrevista a Matheus Leitão — filho de Miriam — ele reiterou a frase.

O coronel Paulo Malhães, durante depoimento à Comissão Nacional da Verdade.
"Eles saíram e o homem de cabelo preto, que alguém chamou de doutor Pablo, voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me deixaram ali, sozinha com a cobra", relatou Miriam Leitão em um texto publicado em 2014.
Ela foi presa em 1972, no Espírito Santo, junto com o companheiro Marcelo Netto — pai de Matheus Leitão. Na época, ela tinha 19 anos e era militante do PC do B, que estava na clandestinidade.
"Me davam tapas, chutes, puxavam pelo cabelo, bateram com minha cabeça na parede. Eu sangrava na nuca, o sangue molhou meu cabelo. Ninguém tratou de minha ferida, não me deram nenhum alimento naquele dia", ela escreveu.
Paulo Malhães foi identificado pela primeira vez como "doutor Pablo", o homem que torturou Miriam, no livro "Em Nome dos Pais", de Matheus Leitão. Foi em uma entrevista para o livro que Bolsonaro reiterou a frase: "Coitada da cobra".
Até hoje, apoiadores do presidenciável utilizam o vídeo da entrevista — gravada pela equipe do deputado — para tripudiar sobre a tortura que Miriam Leitão sofreu.
Bolsonaro participará nesta sexta, às 22h30, do programa Central das Eleições, na GloboNews, mediado por Miriam.
