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É o fim dos impérios das redes sociais — mas o que vem pela frente?

"Talvez tenhamos chegado ao ponto em que nem sequer é possível as pessoas terem o Facebook em comum."

As grandes batalhas políticas em torno do Facebook e de outras gigantes da mídia social marcam o fim da fase de expansão do império dessas companhias.

Agora, elas são como uma potência europeia da metade do século 20, agonizando com a inevitável perda de suas colônias e tentando reprimir revoltas. Não mais encontrando novas fronteiras e mercados para conquistar, estão descobrindo os limites de seus domínios e construindo altas muralhas nessas divisas.

Ninguém acha que o Facebook, o YouTube e afins irão acabar. No entanto, agora está ficando claro que essas empresas tampouco conseguirão substituir a internet inteira, como seu destino um dia pareceu ser — e que, de fato, nenhum executivo em sã consciência iria querer fazer isso.

Pela primeira vez, em anos, há novas redes sociais viáveis nascendo às margens, e as questões importantes estão no que virá a seguir.

"É um mundo diferente pós-2016. As eleições [norte-americanas] podem ter reforçado ainda mais uma fragmentação social que já existia", diz Ethan Zuckerman, o diretor do Center for Civic Media (Centro para Mídia Cívica, em tradução livre) do MIT, que tem estudado questões de uma esfera social nova e descentralizada. "Talvez tenhamos chegado ao ponto em que nem sequer é possível as pessoas terem o Facebook em comum."

Existem sinais concretos, e por vezes desconfortáveis, de que o oligopólio social pode estar terminando. Os mesmos grupos que, no passado, batiam o pé, ameaçavam deixar as grandes redes sociais e fracassavam neste intento agora estão começando a ter sucesso.

As grandes redes sociais sempre foram, certamente, emissoras cujo recurso mais valioso é o tempo do internauta. Ao centralizar a distribuição de conteúdo, elas garantiam que sempre houvesse algo digno da sua atenção. Contudo, tendo crescido e alcançado um tamanho sem precedentes, elas tornaram-se tóxicas e sujeitas à manipulação. A tentativa de controlar o incontrolável pode fazer com que as redes sociais tornem-se mais como plataformas de lançamento, dando origem a redes de nicho para os descontentes. E apesar de um dia ter parecido não haver mais espaço para novas redes sociais, há vários indicadores de que elas poderão voltar a nascer.

Eis apenas alguns deles:

• Medidas repressivas recentes contra a prostituição nos EUA em nível federal — com o fechamento do site Backpage.com — e uma nova lei que responsabiliza plataformas por tráfico humano deram origem, com rapidez notável, a uma nova alternativa ao Twitter para profissionais do sexo. A rede Switter foi criada por uma empresa na Austrália e tem base na plataforma social de código aberto Mastodon em um domínio austríaco.

"O Mastodon tornou fácil para um grupo de usuários de nicho abandonar em massa as plataformas em que estavam quando os riscos inerentes às mesmas se tornaram insustentáveis", relatou Caroline O'Donovan, do BuzzFeed News, neste mês.

Talvez a lição mais marcante aqui tenha sido a facilidade técnica para construir uma nova rede social grande e funcional em poucos dias: o cliente do Mastodon é, para todos os efeitos, uma cópia funcional da interface do Twitter conhecida como Tweetdeck, que é elegante e funcional em computadores e dispositivos móveis.

• Na extrema direita, racistas e trolls vem migrando do Twitter para o Gab. Apesar do jornal "The New York Times" ter caçoado do site há alguns meses por ser "bugado e confuso" e "fadado ao fracasso", a interface está um pouco mais limpa e algumas das vozes mais notórias e banidas do Twitter — desde o mestre dos bots Microchip e a autoparódia supremacista branca @wifewithapurpose — agora estão tagarelando por lá. O fundador do site, Andrew Torba, disse ao meu colega Joe Bernstein que atualmente o serviço tem mais de 455 mil usuários após a purga de uma onda de bots (russos!).

(Um desafio: será que eles realmente conseguem prosperar sem ninguém para trollar por lá?)

• E à medida que o YouTube enfrenta pressão dos anunciantes para fazer uma limpa, algumas de suas comunidades estão entendendo o recado e mudando-se para similares mais abertos, como o BitChute. Leticia Miranda escreveu recentemente uma reportagem para o BuzzFeed News sobre a partida dos "guntubers" (YouTubers que produzem conteúdo sobre armas) para uma nova série de sites para entusiastas de armas, como o Utah Gun Exchange, cujo vídeo de apresentação já obteve 500 mil visualizações. O vídeo "The Top Ten Guns For Teachers" ("As dez melhores armas para professores", em tradução livre) tem mais de 50 mil views.

"Qualquer um, qualquer criador de conteúdo que tenha sofrido desmonetização ou algum tratamento injusto por parte do YouTube poderá vir até nossa página e exercer seu direito constitucional à liberdade de expressão", disse Bryan Melchior, coproprietário do Utah Gun Exchange, ao contar a Miranda os planos de lançar um site de vídeos independente, o UGETube.

Devo fazer uma pausa para dizer que prever o sucesso de novas redes sociais soa, por enquanto, ainda uma grande tolice. Talvez você tenha lido reportagens esperançosas sobre o Plurk, Peach, Yo, App.net, o afetado Ello, Yik Yak, Whisper e do lindíssimo mas malfadado Path — e depois presenciado sua morte silenciosa. Até o poderoso Google se deu mal com seu tecnicamente perfeito — e desprezado — Google Plus.

E há boas razões pelas quais Facebook, Snapchat, Twitter, YouTube e Instagram foram capazes de manter sua hegemonia sobre a rede social mundial. Elas têm a vantagem de que todos os seus amigos já estão lá. Elas têm as vantagens técnicas de todos os dados e insights de produto que extraem de seus usuários. Elas têm dinheiro. Elas têm empresas de mídia alegremente extraindo conteúdo grátis delas. Até recentemente, eram vistas como inovadoras e divertidas.

Quando um sonhador alienado pelas principais redes sociais começava uma nova, a internet tirava sarro dele por um tempo e depois deixava o negócio morrer em paz. No meu próprio caso, eu ocasionalmente era persuadido a tomar um café com alguém que achava que o BuzzFeed deveria concorrer com o Facebook ou o Twitter, e me sentia como o político cujo eleitor se revela alguém preocupado com conspirações e educadamente me retirava da conversa.

Mas o Switter, o Gab e os guntubes estão brotando e florescendo. Há grandes forças nos levando à fragmentação. Essas não são tentativas de invadir o que já existe, mas de conquistar um território independente. E, como Mike Cernovich escreveu recentemente, "várias pessoas bem informadas com quem conversei independentemente me disseram que sentiam uma mudança na energia".

(Será que consigo escrever esse artigo inteiro sem falar sobre as vantagens do blockchain, que não tem conexão óbvia com essa descentralização apesar de frequentemente ligarem uma palavra à outra? Consigo.)

Com toda seriedade, os tempos mudaram, principalmente porque as forças do setor publicitário sobre as plataformas mudaram. A escala gigantesca tem desvantagens especiais, no fim das contas. Maus agentes tiram vantagem dessa escala, provocando opiniões negativas e escrutínio legislativo. E quando isso se cruza com, por exemplo, os cingaleses ou vídeos de exploração infantil — pode esquecer.

Políticas tóxicas, controvérsia e polêmica são todas ruins para os negócios. E, nesse meio tempo, as forças da fragmentação na tecnologia e na cultura têm aberto as portas para novos rivais menores.

O Facebook, previsivelmente, viu essa fragmentação vindo há tempos, e foi por isso que fez tanta questão de incentivar os Grupos. Mas, no fim das contas, esses ainda são territórios sujeitos às leis e impostos do império maior, quando a demanda é por uma nova nação.

É um truísmo em Washington, a capital americana, que o Congresso geralmente só começa a lidar com um problema depois que já é tarde demais. Estivemos atentos à convocação de líderes do Facebook para prestar esclarecimentos ao Legislativo americano na semana passada. Mas é possível que a escala e a centralização sejam apenas problemas de ontem e de hoje neste panorama da mídia e da política. O amanhã talvez envolva o nascimento de um novo ecossistema fragmentado, sem sedes no Vale do Silício e sem executivos para convocar a depor. ●

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Este post foi traduzido do inglês.


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