Doar as roupas que eu odiava me ajudou a amar meu corpo

Sim, pode ser simples assim.

Charlotte Gomez / Jon Premosch / BuzzFeed

Oi! Meu nome é Arianna. Nos últimos quatro anos, ganhei aproximadamente 13 quilos.

E hoje também estou mais saudável e feliz. Isso porque, há quatro anos, foi a última vez que tive algum dos transtornos alimentares que sofri dos 15 aos 26 anos. Nesses 11 anos, fiquei obcecada com minha alimentação e meu corpo, vivendo ciclos de dieta, de compulsão alimentar e de desintoxicação... Eu nunca estava no peso que queria, e ele parecia me prometer tanta coisa: viver despreocupada! Sem problemas! Ter sucesso no trabalho e nos relacionamentos!

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Claro, isso nunca aconteceu, e eu sei disso por duas razões:

1. Sempre que cheguei ao que considerava ser meu "peso ideal", descobria que ainda odiava meu corpo e que precisava de uma nova meta.

2. Só depois que parei de fixar uma meta de peso incrivelmente baixa (e comecei a ganhar peso) que consegui um relacionamento, um trabalho e uma vida que amo. Estou dizendo que todos precisam ganhar peso para alcançar seus sonhos? Bem, não. Mas você sabe o que ajuda? Comer e abrir a cabeça para pensar em outras coisas.

Estou muito feliz com minha recuperação. No entanto, permitir que meu corpo se adapte a um novo peso significa que quase todas as roupas que tenho não servem mais. Até agora, eu relutava em comprar tamanhos novos e maiores.

É difícil se livrar da crença de que magreza = beleza = felicidade.

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Principalmente quando essa crença tem o respaldo de vários veículos de imprensa:

Shape, Health, Women's Health

Então, mesmo quando entendia, racionalmente, que não precisava perder peso e que meu corpo não tinha nenhuma influência sobre meu valor, eu não parava de ouvir aquela vozinha interna dizendo: "Sim, isso funciona para os outros... mas você tem que perder peso". E essa voz gritava quando eu estava me vestindo.

Todas as manhãs, eu encarava a terrível tarefa de, diante de um armário que desmerecia meu corpo, escolher uma roupa que me deixaria fisicamente desconfortável o dia inteiro. Minhas roupas estavam desfazendo anos de esforço para aceitar meu corpo como ele é, levando-me a velhas convicções. Por exemplo: que eu merecia o desconforto por ter ganhado peso; que a raiva e a infelicidade me motivariam a perder peso; que a felicidade e a autoestima eram para pessoas magras. Anos atrás, eu tinha decidido que essas crenças eram vazias. Então finalmente chegou a hora de abandonar a última coisa que me puxava em direção a elas.

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Então, fiz um plano:

1. Experimentar tudo que estava no meu armário.

2. Doar o que não coubesse. TUDO.

3. Comprar roupas que coubessem.

4. Seguir em frente e vestir o que me fizesse feliz.

Agora — antes de você falar: "Mas, e a dieta?" ou "Mas, e o exercício?", devo dizer que me exercito regularmente e tenho uma dieta equilibrada, ainda que ela não seja o foco da minha vida. Eu poderia me exercitar mais e poderia comer menos ou de outra maneira? Claro. Mas eu não quero.

E tudo bem!

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Então, numa noite de segunda-feira, joguei tudo o que tinha no chão do quarto e fui em frente.

Arianna Rebolini / BuzzFeed, Arianna Rebolini / BuzzFeed

Começou divertido (porque quando NÃO é divertido fazer uma bagunça?), mas, quando passei a experimentar as roupas, meu humor desmoronou — rapidamente. Eu tinha comprado a maioria das peças anos atrás, durante as piores fases de meu transtorno alimentar, e eu estava levando-as de apartamento em apartamento desde então, acreditando que valeria a pena voltar para essa versão de mim — convenientemente ignorando o que eu tinha feito para chegar lá e o quão infeliz eu estava.

Então me lembrei que havia uma razão pela qual eu estava mais pesada agora, e que era uma boa razão. Perseverei. Experimentei saias, calças, vestidos, shorts. Liguei o som. Peguei uma cerveja. Convidei meus gatos para a festa. E logo ficou fácil. Parecia produtivo. Ia me sentindo mais livre com cada peça de roupa que atirava na pilha de "se livrar".

Porque quando você guarda as roupas que não servem, você acaba com um monte de roupas. Tipo, demaaaais. A maioria das peças que experimentei eu já estava propositadamente evitando, mas também redescobri coisas que eu simplesmente tinha esquecido. Roupas que ainda serviam, mas que eu achava que não serviriam — ou que estavam escondidas pelas peças que não serviam. Foi uma surpresa agradável!

No final, eu separei para doação:*

• 5 shorts jeans

• 8 saias

• 3 calças

• 5 camisas

• 9 vestidos

*As mais corajosas podem optar por vender suas roupas (opções, em inglês, aqui!); já eu me senti emocionalmente vulnerável para colocar minhas roupas em um brechó.

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BuzzFeed

Depois vieram as compras.

Eu estaria mentindo se dissesse que não me preocupei com o quanto iria gastar. Roupas em geral são caras, ainda mais quando você está procurando boas peças.

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Eu queria sentir esse processo como uma melhora, então precisava de roupas de qualidade — peças que durariam mais do que algumas lavagens.

Eu sabia que teria que usar minhas economias, mas justifiquei o gasto lembrando do dinheiro que tinha economizado porque não estava comprando roupas novas. Antes dessa decisão, eu teria gasto, provavelmente, US$ 100 por ano (aproximadamente R$ 330) em roupas — um vestido aqui, uma camisa lá. Vendo a quantidade de peças que eu tinha me livrado, estimei que gastaria entre US$ 300 e US$ 400 (R$ 985 e R$1300) para repô-las. Para alguém mão de vaca como eu, esse pensamento foi o suficiente para me fazer suar frio. Mas decidi considerar esse gasto um investimento — no meu futuro, na minha saúde física e mental, na minha felicidade.

Então eu saí do trabalho uma noite pronta para gastar um pouco de dinheiro.

É difícil imaginar uma situação em que comprar roupas seja tão difícil ou incômodo como quando uma pessoa ganha peso. Ninguém pensa duas vezes antes de jogar fora calças que estão em mau estado ou um vestido que está fora de moda. Já um guarda-roupa novo devido à perda de peso é, literalmente, celebrado. Eu ainda não conseguia afastar o sentimento de vergonha, como se comprar tamanhos maiores revelasse alguma falha moral. Mas tentei tirar essa ideia da cabeça. Eu tinha sobrevivido à primeira parte dessa experiência de autoaceitação. Certamente poderia sobreviver a uma outra!!!

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RAPAZ, EU ESTAVA ERRADA.

Arianna Rebolini / BuzzFeed, Arianna Rebolini / BuzzFeed

Provadores geralmente são traumáticos, mas sabe o que os torna ainda piores? Levar todos os tamanhos errados para o provador, sabendo que há uma fila esperando você sair! Isso foi o que eu descobri no meu primeiro passeio de compras, que fiz em meio a multidões em grandes lojas de departamento na Quinta Avenida, em Nova York. Eu não recomendo! Eu odiei tudo. Literalmente tudo. Eu saí após uma hora, aos prantos, derrotada por minhas expectativas, talvez grandes demais (você quer que eu acredite que simplesmente dizer que você vai amar seu corpo não é o suficiente para realmente amá-lo???). Tive muito medo de voltar aos maus hábitos do passado.

Eu me dei alguns dias para voltar ao normal e, então, tomei um rumo diferente para meu passeio de compras #2.

Sai mais cedo do trabalho em uma tarde de sexta-feira e, em vez de ir a lojas da movimentada Manhattan, fui a algumas no meu bairro, o Brooklyn. Era um dia bonito e ensolarado. Andei por horas com uma boa playlist nos fones de ouvido; conversei com vendedoras super prestativas; parei para um lanche no meu café favorito. Talvez tenham sido todos esses fatores ou talvez eu tenha simplesmente encontrando roupas melhores, mas, independentemente disso, — eu adorei!

Não é que de repente eu adorei tudo o que experimentei; eu simplesmente estava comprometida tempo o suficiente para encontrar peças que me fizeram sentir bem. E depois que eu percebi que esse sentimento era possível, foi fácil querer encontrá-lo em outro lugar. Eu até prometi ao meu namorado — que me incentiva a vestir roupas que revelem um pouco mais minhas curvas — que também compraria peças que não fossem muito folgadas (o que posso dizer??!! Amo roupas folgadas!!) e cumpri essa promessa.

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Arianna Rebolini, Arianna Rebolini

(Eu sei que pareço infeliz, mas essa é minha cara normal.)

Eu não estava apenas me contentando com roupas que serviam — eu estava achando peças que realmente gostava. Eu olhava para o meu reflexo no espelho e pensava, pela primeira vez em muito tempo: caramba, eu estou maravilhosa!

No final, eu comprei:

• 2 shorts

• 2 camisas

• 5 vestidos

• 2 macacões

Por pouco mais de 400 dólares (aproximadamente 1.300 reais).

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E, nossa, se comprar as roupas foi divertido, vesti-las foi uma revelação.

Jon Premosch / BuzzFeed, Jon Premosch / BuzzFeed

Como eu fiz as compras em uma sexta-feira, passei a maior parte do fim de semana esperando ansiosamente para vestir as roupas no trabalho. Eu me senti como uma criança prestes a estrear na escolinha as roupas que ela convenceu a mãe a comprar durante as férias de verão. Foi um sentimento de vaidade, com certeza, mas que veio da sensação de que eu estava muito bem, obrigada! Era um sentimento que eu não experimentava havia muito tempo. E — estou prestes a me vangloriar aqui — na primeira hora do primeiro dia, as pessoas já estavam percebendo.

"Estou obcecada com seu...vestido? É um vestido?", disse uma quase desconhecida, sobre uma nova túnica jeans com fundo de renda.

"Você está mandando muito bem nesta semana", disse uma colega na quarta-feira.

"Eu espero que isso não soe estranho, mas você parece super feliz ultimamente!", disse um amigo no final da semana.

Inacreditável!

Jon Premosch / BuzzFeed, Jon Premosch / BuzzFeed

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E o melhor desse projeto é que ele não dura uma semana — dura a vida toda, e seu impacto é difícil de saber.

Eu já não tenho medo de acordar ou sair. Eu não passo mais o dia tentando tornar o meu corpo menor ou escondê-lo. Eu não penso mais no que posso comer com base no desconforto do que visto. Fico animada quando estou montando looks (uma alegria que eu tinha esquecido) e, quando admiro um estilo ou tendência, fico menos propensa a dizer que aquilo não daria certo em mim.

Isso não quer dizer que, de repente, passei a curtir 100% meu corpo ou que minha autoestima é inabalável.

Eu sei que essas crenças e esses medos sobre o que significa estar 13 quilos mais pesada permanecem e aparecerão sempre que eu estiver mais vulnerável. O que senti, porém, é que posso simplesmente existir assim — a perda de peso não é um passo necessário para a autorrealização (seja lá o que isso signifique). E que talvez a ideia de perder peso por si só seja uma grande besteira — e que eu posso simplesmente escolher deixá-la. É difícil imaginar uma vida em que minha principal preocupação não é como vou perder peso e quando vou começar a dieta, mas estou animada com essa perspectiva.

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Vou dizer a vocês o que gostaria que alguém tivesse me dito: se você abrir seu armário e perceber que suas roupas não estão servindo mais, você não tem que dar um significado emocional a isso.

Você não fracassou. Você pode comprar roupas novas ou adaptar as que você tem. Não é nada demais, e você vai desejar ter feito isso muito antes.

Confira vídeo da autora do post, em inglês:

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