O que está acontecendo na Coreia do Sul

Escândalo político mais bizarro do mundo envolve a presidente em uma trama de corrupção, seita religiosa, cartomante e "fadas".

Esta é a Park Geun-hye, atual presidente da Coreia do Sul. Ela comanda o país desde 2012 e foi a primeira mulher eleita para o cargo.

Kim Hong-ji / Reuters

Ela é filha do falecido ditador Park Chung-hee (presidente de 1963 a 1979), cujo governo foi marcado pelo forte anticomunismo. Quando jovem, ela teve ambos os pais assassinados.

A presidente Park enfrenta um grande escândalo político que tem como centro esta coreana aí embaixo, Choi Soon-sil, amiga e conselheira da presidente há mais de 40 anos. Ela teria usado a amizade com a presidente para lucrar e influenciar decisões do governo.

Choi, 60, é acusada de influenciar profundamente as decisões de Park e até de ter escrito alguns de seus discursos, como diz o "New York Times", além de ter tido acesso a documentos sigilosos e indicado aliados para cargos do governo.

A JTBC, rede coreana de TV a cabo, disse que obteve um tablet descartado que era de Choi. Nele estavam rascunhos de 44 discursos e outras declarações que a presidente Park deu em entre 2012 e 2014. Alguns jornais locais especulam sobre a influência de Park mesmo no guarda-roupa da presidente.

Na quarta-feira, os promotores invadiram casas pertencentes a Choi, bem como escritórios de duas fundações que ela controla. A suspeita é que ela tenha usado a amizade com a presidente para pressionar grandes empresas coreanas a doarem cerca de US$ 70 milhões para suas fundações.

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Milhares de pessoas foram às ruas para pedir a renúncia da presidente Park, enquanto ela pediu "profundas desculpas ao povo" e demitiu dez secretários próximos como uma tentativa de amenizar as críticas e esfriar as coisas.

Woohae Cho / Getty Images

Vários veículos de comunicação da Coreia do Sul, como "Korea Herald" e "Hankook" fizeram duras críticas à Park. Alguns a chamaram de "marionete" a serviço de Choi e outros disseram que ela "perdeu a integridade moral". Park descreve Choi apenas como uma velha amiga, que ficou com ela durante momentos difíceis.

Corrupção, tráfico de influência, enriquecimento ilícito... Até aí parece um escândalo normal, né? Principalmente para quem vive no Brasil.

Rodolfo Buhrer / Reuters

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Mas alguns detalhes dão um tom sobrenatural para a trama política.

Choi Soon-sil, a amiga da presidente, é acusada de formar um grupo de conselheiros presidenciais não oficiais chamados de "as oito Deusas", ou "as oito fadas", com amplo acesso à presidente Park.

Kim Hong-ji / Reuters

Ninguém sabe ainda quem são os integrantes do grupo. Segundo o blog Ask a Korean, que cita diversos jornais coreanos como fonte, Choi tinha como conselheiros próximos pessoas como o próprio personal trainer e uma pessoa envolvida com a produção de vídeos de K-pop.

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Quando um espião norte-coreano assassinou a mãe de Park, em 1975, Choi Tae-min (pai da conselheira Choi Soon-sil), disse que conseguia "falar com a alma da mãe de Park". Foi assim que Choi Soon-sil e Park ficaram amigas.

Jung Yeon-je / AFP / Getty Images

Logo após o assassinato, o Choi pai enviou várias cartas a Park Geun-hye, alegando que a alma da mãe de Park visitou-o. Park era filha do presidente Park Chung-hee e, por causa da morte de sua mãe, virou primeira dama do país. Park Chung-hee também morreu assassinado pouco tempo depois.

Choi Tae-min é conhecido na Coreia como o criador do culto religioso chamado Igreja da Vida Eterna e se referia a si mesmo como o "Buda do Futuro".

Chung Sung-jun / Getty Images

Choi Tae-min morreu aos 82 anos, em 1994, depois de se casar seis vezes.

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Um documento de 2007, vazado pelo WikiLeaks, diz que a embaixada americana em Seul reportou rumores de que o Choi pai "havia tido controle completo sobre corpo e alma da presidente Park durante os seus anos de formação e que seus filhos acumularam uma enorme riqueza como resultado disso".

Reprodução

Esta história toda tem conferido o apelido de "Rasputin coerana" à conselheira Choi. Grigori Rasputin foi um místico russo, amigo de confiança da família de Nicolau II, o último czar da Rússia, que se tornou bastante influente na corte russa.

Hulton Archive / Getty Images

Rasputin nasceu em 1869 e morreu, assassinado, em 1916.

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A imprensa internacional, como o jornal britânico "Telegraph", tá repercutindo bastante a história.

Reprodução/Telegraph

"Conselheiros secretos, nepotismo e até mesmo rumores de um culto religioso: o escândalo político que pode destruir a presidente da Coreia do Sul"

E por aqui também tá todo mundo tentando entender o que aconteceu.

Reprodução/IG

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De acordo com a agência de notícias Yonhap, a conselheira Choi disse a repórteres nesta segunda, em seu caminho para se reunir com os promotores, que sentia muito. "Por favor me perdoem. Eu cometi um pecado que merece a morte."

No site Naver, um dos maiores da Coreia, os dez termos mais pesquisados são sobre o escândalo, incluindo "impeachment".

Kim Hong-ji / Reuters

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