No fim de semana, esta reportagem do G1 sobre um detento que passou no vestibular viralizou na internet.
Mas a história é um pouco mais complicada.
Para início de conversa, o preso Pedro Henrique Monteiro Araújo, 34, não passou em primeiro lugar no vestibular de cinema da UFPA (Universidade Federal do Pará).
De acordo com o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), Pedro teve a terceira maior nota dos cinco aprovados.
Apesar de aparentar ser branco, o detento concorreu na cota destinada a vestibulandos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que estudaram em escolas públicas.
Pedro Henrique foi condenado a 38 anos de prisão por ter abusado de três meninos com idades entre 8 e 10 anos, quando chefiava um grupo de escoteiros.
Ele filmou e divulgou os atos na internet. Em depoimentos separados, as crianças confirmaram as acusações. O BuzzFeed News teve acesso à ação em segunda instância.
"Essas declarações são merecedoras de extrema credibilidade, pois cediço que a palavra da vítima, em sede de crime de estupro, em regra, é elemento de convicção de alta importância, levando-se em conta que crimes desta casta, geralmente, não têm testemunhas e sempre são praticados às escondidas", escreveu a desembargadora Maria Edwiges de Miranda Lobato, relatora do caso no Tribunal de Justiça do Pará.
No processo, um laudo pericial considerou que Pedro Henrique é semi-imputável — ou seja, não tem plena capacidade de avaliar as consequências de suas ações. O mesmo laudo também diz que há possibilidade de reincidência do condenado.
Esta foi a terceira vez em que Pedro Henrique passou no vestibular. "Ele tem muita vontade de cursar cinema", disse a advogada Luana Miranda, que o defende, ao BuzzFeed News.
Segundo ela, Pedro Henrique teve o pedido para estudar negado nas outras vezes em que foi aprovado.
Para que possa ir à faculdade, o detento precisa de autorização do juiz de execução penal — magistrado responsável por acompanhar se a pena está sendo cumprida da maneira correta. Caso o juiz autorize, ele sairia do presídio apenas nos horários de aula.
"O Pedro Henrique busca muito a melhora dele como ser humano. Ele trabalha no sistema penal e é uma pessoa que busca sua melhoria", disse Luana.
"A gente não pode simplesmente fixar que a pessoa é uma criminosa e negar-lhe os direitos. A questão da ressocialização é vital, e tanto o trabalho como o estudo são essenciais para que aconteça."