Os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud afirmam, em trecho da conversa gravada que pode levar à anulação dos benefícios do acordo de colaboração da JBS, que precisam "operar o [ex-procurador] Marcelo [Miller] direitinho pra chegar no Janot".
O diálogo, que integra apenas uma parte das quatro horas de gravação, foi revelado nesta terça (5) pelo site da Veja.
A existência do diálogo, cujo conteúdo ainda está sob sigilo, foi revelada durante uma entrevista coletiva do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda-feira (4).
Ele enviou um ofício ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, com os dados que podem levar à anulação do acordo da JBS.
Segundo a Veja, no diálogo — que aparenta ter sido gravado por acidente — Joesley e o também delator e lobista da JBS, Ricardo Saud, conversam sobre o ex-procurador Marcelo Miller.
Àquela altura, no dia 17 de março, Miller ainda estava no Ministério Público Federal. Ele pediu desligamento da instituição em 5 de abril e virou sócio do escritório Trench, Rossi & Watanabe, que representa a JBS nas negociações de seu acordo de leniência — que ainda não foi fechado.
A negociação pela delação da JBS com a PGR só começaria, segundo o ofício enviado por Janot a Fachin, dez dias depois do diálogo, em 27 de março.
“Eu quero nós dois 100% alinhados com o Marcelo [Miller]… Nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot… Eu acho… É o que falei com a Fernanda [possivelmente Fernanda Tórtima, advogada da JBS], nós nunca podemos ser o primeiro, nós temos que ser o último, nós temos que ser a tampa do caixão…Fernanda, nós nunca vamos ser quem vai dar o primeiro tiro, nós vamos o último…vai ser que vai bater o prego da tampa”, diz Joesley na conversa, de acordo com a Veja.
No diálogo, de acordo com o site, Saud afirma que a função de Miller na PGR é “tranquilizar” os delatores. O lobista também diz, sempre de acordo com a Veja, que o método para ganhar a confiança de Janot é “chamar todo mundo de bandido”.
“Cara, eu vou te contar um negócio, sério mesmo. Nós somos do serviço, né? [Nós] vai acabar virando amigo desse Ministério Público, você vai ver. Nós vai [sic] virar amigo desse Janot. Nós vai virar funcionário desse Janot [risos]. Nós vai falar a língua deles. Você sabe o que que é?”, diz Joesley.
“A língua… Domina o país… Dominar o país”, completa Saud. Na sequência, Joesley dá a deixa: “Você quer conquistar o Marcelo? Você já achou o jeito. Cê quer conquistar o Marcelo? Você já achou o jeito. É só começar a chamar esse povo de bandido. Esses vagabundo bandido, assim”.
Em nota, a J&F, holding que é dona da JBS, disse que o Ministério Público Federal fez uma "interpretação precipitada" que será "rapidamente esclarecida". Leia a íntegra da nota.
"A defesa dos executivos da J&F junto ao Ministério Público Federal informa que a interpretação precipitada dada ao material entregue pelos próprios executivos à Procuradoria-Geral da República será rapidamente esclarecida, assim que a gravação for melhor examinada.
Conforme declarou a própria PGR, em nota oficial, o diálogo em questão é composto de “meras elucubrações, sem qualquer respaldo fático”. Ou seja, apenas cogitações de hipóteses — não houve uma palavra sequer a comprometer autoridades.
É verdade que ao longo do processo de decisão que levou ao acordo de colaboração, diversos profissionais foram ouvidos — mas em momento algum houve qualquer tipo de contaminação que possa comprometer o ato de boa-fé dos colaboradores."