Busca no Google expõe relação entre separações e violência contra a mulher

Caso você ainda esteja precisando de provas de que o machismo existe no Brasil, faça uma pesquisa por "inconformado com fim de relacionamento".

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Nos resultados da busca, os relatos descrevem diversos tipos de violência. São homens que torturam, estupram, ateiam fogo às suas ex-parceiras...

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...matam a tiros, agridem com facas e estendem as ameaças para as famílias.

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A relação entre os términos e a violência contra a mulher tem origem em um "sentimento de posse, construído culturalmente", segundo Jane Felipe de Souza, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em entrevista ao BuzzFeed Brasil.

Jane, que é especialista em Relações de Gênero, explicou que "meninos são educados a não terem limites e desta forma têm uma baixa tolerância à frustração. Como também são educados de forma misógina, na vida adulta, se sentem no direito de dominar as mulheres. Primeiro com a violência benévola (violência disfarçada de proteção). Depois isso pode chegar à violência física".

A especialista diz ainda que os "meninos são criados para não levarem desaforo pra casa enquanto as meninas são criadas para não se meterem em confusão. Meninos aprendem que meninas menos e que por isso podem ser subjugadas, humilhadas e controladas".

Se pesquisarmos por mulheres "inconformadas pelo fim do namoro", também vamos achar agressoras de ex-companheiros, porém em um número sete vezes menor.

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São mais de 21 mil resultados para a busca por "inconformados", contra pouco mais de 3 mil para a pesquisa por "inconformadas". Ambos os resultados mostram notícias sobre reações violentas e agressões contra ex-companheiros.

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Há ainda outro fator a observar nos resultados das pesquisas sobre "mulheres inconformadas": muitas delas tentam o suicídio.

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A professora diz que os veículos de comunicação também têm uma parcela de culpa na manutenção do machismo. "Os títulos da matéria, de certa forma, justificam a violência".

Jane diz que em nenhum momento as reportagens disseram que a violência é fruto de uma educação machista, que encara a mulher como posse. "Acho que os títulos não visibilizam a violência cometida, pois, de certa forma, justificam o ato".

A especialista compara as manchetes com a repercussão do caso da menina Eloá, assassinada pelo ex-namorado em 2008. "Me chamou atenção o fato dos noticiários focarem muito no ciúme do rapaz que assassinou a ex-namorada e ainda feriu a amiga dela. O tom era: "olha só como ele ama tanto que ficou desesperado com a separação!"

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